A política petista, para alguns jornalistas apocalípticos, chegou ao precipício final. Levou consigo as conquistas econômicas e os sonhos de grandeza internacional para o Brasil; arrastou por um lamaçal de denúncias e escândalos as principais empresas do Estado; pôs fim à honra e deflagrou um caos social baseado na luta de classes, na rivalidade entre os mais pobres e os mais ricos. A insídia deste discurso traçou um laço que arrebatou milhões de eleitores na última eleição. E não fosse o contra-discurso catastrófico, o Brasil aí sim, estaria em muito maus lençóis.
A política deste país é engendrada nos bastidores das casas públicas. No discurso oficial as coisas nem sempre funcionam com a desenvoltura de um acordo em gabinete ou duma conversa nos corredores das câmaras. Assim é a vida em Brasília ou na mais simples câmara de vereadores do país. Mas a imprensa fantasiosa, que se deleita e se alimenta com a promoção de escândalos após escândalos, tentou abolir o que há de mais simples na política brasileira. Qualquer acordo cheira a esquema de corrupção.
O tempo inteiro a Casa Civil ou a própria presidenta da república são obrigadas a responder sobre fatos que a justiça não comprova, mas que são transformados em assunto principal no banquete midiático antipetista. A mobilização da imprensa descaracteriza inclusive o poder da justiça: não é mais o investigador ou o delegado a investigar os esquemas; a atribuição agora é do jornalista que, segundo suas próprias conclusões, define o status de envolvimento, participação e penalização.
A objetividade das análises nos faz pensar que a política está mudando. Independente de partido político é preciso entender o ciclo de caça à corrupção. Nunca neste país se viu um dono de empreiteira ser preso. A atividade ilícita que é o pagamento de propina passa por uma cultura tão entranhada nas vísceras do sistema a ponto de ser taxada como normativa para a realização de obras. Mario Oliveira Filho, advogado do lobista Fernando Soares (Fernando Baiano), preso na sexta-feira (18/11) por envolvimento no esquema Lava Jato, disse que, no Brasil, não se faz obra pública sem “acerto” e que quem nega isso “desconhece a história do país”.
A verdade dita pelo advogado causou espécie aos editores do Jornal Nacional, na quarta-feira 18/11. Evidente que a fala do causídico remete a um discurso de defesa, embora tenha utilizado uma temática de choque para desviar a atenção sobre o seu cliente. O JN enviou repórteres pelas ruas em busca de entrevistas de populares sobre o assunto. O número de entrevistados chamou a atenção pelo que se costuma ser a média em cada matéria, especialmente quando o assunto é política.
A intenção foi causar um impacto social. Mostrar que, mesmo sabendo destas revelações, o brasileiro é contra a corrupção, não se sente tranquilo neste contexto. O discurso construído tenta evidenciar que o brasileiro está atento aos acontecimentos da política. Não interessa aos intransigentes saber que depois de vários governos, é este o primeiro a lacerar da carne suas própria mazelas. O discurso midiático promove um desvio focal da situação. Dilma e o PT serão sempre os alvos principais.
Mais insidiosa ainda é a possibilidade de impeachment. Desde o dia 26 de outubro, quando Dilma venceu Aécio nas urnas, um coro soturno e decaído orienta, além das práticas do golpismo, uma segunda possibilidade mais viável aos olhos da democracia. É preciso estar de olhos bem abertos aos construtores duma tocaia que pouco preza pelos direitos da constituição.