Na manhã desta quarta-feira, um grupo organizado de mutuários do Residencial Villa Verde de Candeias se reuniu na 12ª Vara da Justiça Federal em Salvador. O objetivo da manifestação era pedir agilidade no processo que já se estende por 10 anos. O empreendimento, lançado com promessas de um futuro brilhante, agora completa uma década em total abandono, deixando inúmeras famílias sem a tão sonhada moradia.
O Pesadelo dos Mutuários
O Residencial Villa Verde Candeias, concebido para abrigar cerca de 100 famílias, tornou-se um verdadeiro pesadelo. As obras, que deveriam ter sido concluídas há anos, permanecem inacabadas, e os 228 apartamentos nunca foram entregues. A Runa/Vooxy, construtora contratada pela Caixa Econômica Federal, vendeu as unidades, mas não cumpriu com suas obrigações, deixando os compradores em uma situação precária.
“A gente investiu todas as economias nesse apartamento. Eu estava planejando me casar e começar uma vida nova aqui, mas tudo desmoronou”, conta Danilo, um dos mutuários afetados. “Agora, estou morando com meus pais e minha noiva acabou desistindo do casamento por causa dos problemas.”
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Dificuldades Diárias
As dificuldades enfrentadas pelos compradores são inúmeras. Sem os apartamentos, muitos estão vivendo de favor na casa de parentes ou amigos, ou pagando aluguel em residências provisórias. A situação tem gerado transtornos e desgastes emocionais profundos.
Além disso, muitos mutuários enfrentam dificuldades financeiras adicionais. Com os pagamentos de financiamentos de imóveis que nunca receberam, seus nomes acabaram sendo negativados nos órgãos de proteção ao crédito. Isso os impede de financiar outro imóvel ou de se inscrever em programas sociais como o Minha Casa Minha Vida, agravando ainda mais a situação.
A Associação de Mutuários e a Luta por Justiça
Máximo Ferreira, presidente da Associação de Mutuários do Residencial Villa Verde de Candeias (AMRVVC), destaca a importância da reunião na Justiça Federal. “Essa conversa nos dá uma luz para seguir em frente”, afirmou Ferreira. “Foram dois anos de luta intensa, e finalmente sentimos que estamos sendo ouvidos.”
Preocupações com a Segurança
Além dos problemas relacionados à moradia, os vizinhos dos prédios abandonados relatam preocupações com a segurança. “O local é perigoso. Tem muita água acumulada, que pode atrair mosquitos da dengue, e usuários de drogas estão usando os prédios para dormir e consumir entorpecentes”, disse um vizinho que preferiu não se identificar.
O Encontro com o Juiz
No fórum, o juiz federal Ávio Mozar atendeu a três representantes dos mutuários, incluindo Máximo Ferreira, Onaldo Rosa, advogado da associação, e Adila. “Nós explicamos a situação da nossa necessidade, o tempo que o processo está demorando e o quanto estamos sendo lesados pela Caixa”, contou Máximo. “O juiz se mostrou comovido com nossa situação.”
O advogado Dr. Onaldo Rosa destacou um ponto crucial durante a conversa com o juiz. “Apontamos que, além de as famílias estarem sendo lesadas pela Caixa, a instituição não estava cumprindo uma decisão judicial anterior. Isso pareceu sensibilizar o juiz Mozar, que reconheceu a gravidade da situação e a necessidade de uma ação rápida”, relatou Onaldo.
Esperança e Expectativa
Dr. Ávio Mozar garantiu aos mutuários que, assim que o processo retornar do Ministério Público, ele agirá com firmeza contra a Caixa. “Vamos aguardar e ver no que vai dar. Estou feliz por termos conseguido falar com o juiz, mas só vou acreditar quando tivermos uma solução concreta”, concluiu Máximo Ferreira.
O caso do Residencial Villa Verde de Candeias é um claro exemplo das dificuldades enfrentadas por muitas famílias brasileiras na busca pela casa própria. As promessas não cumpridas e o abandono do projeto resultaram em anos de sofrimento e luta por justiça. A manifestação desta quarta-feira é mais um passo na longa jornada dessas famílias em busca de uma resolução definitiva.