História de Nossa Senhora das Candeias: Luz, Fé e Tradição

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Nossa Senhora das Candeias, também conhecida como Nossa Senhora da Candelária ou Nossa Senhora da Luz, é um dos títulos marianos mais venerados no catolicismo, especialmente em países lusófonos. Sua devoção está profundamente ligada à simbologia da luz, representando Cristo como “luz do mundo” e Maria como aquela que O apresenta à humanidade. Celebrada em 2 de fevereiro, sua festa coincide com a Candelária, uma tradição que remonta aos primeiros séculos do cristianismo.

Origens Bíblicas e Raízes Litúrgicas
A festa de Nossa Senhora das Candeias está enraizada no episódio bíblico da Apresentação de Jesus no Templo e da Purificação de Maria, relatado no Evangelho de Lucas (2:22-40). De acordo com a lei mosaica, 40 dias após o parto, Maria e José levaram Jesus ao Templo de Jerusalém, onde ofereceram dois pombinhos como sacrifício. Lá, o ancião Simeão reconheceu o Messias, proclamando-O como “luz para iluminar as nações” (Lc 2:32). Essa passagem fundamenta o uso de velas na celebração, simbolizando a luz de Cristo.

A festa da Purificação de Maria, inicialmente chamada de Hypapante (Encontro) no Oriente, foi incorporada ao calendário romano no século VII, associando-se à bênção de velas, daí o nome “Candelária” (do latim candelae). A devoção mariana emergiu dessa liturgia, destacando Maria como portadora da Luz Divina.

Desenvolvimento Histórico e Expansão
Na Idade Média, a festa ganhou força na Europa, promovida por ordens religiosas como os franciscanos. Uma lenda medieval ibérica conta que um pastor encontrou uma imagem da Virgem segurando uma vela em uma gruta, possivelmente nas Ilhas Canárias, dando origem ao culto de Nossa Senhora da Candelária. Essa narrativa, associada à proteção contra tempestades e perigos, ajudou a disseminar a devoção.

Em Portugal, o culto floresceu no século XV, especialmente no arquipélago da Madeira, onde o Santuário de Nossa Senhora da Candelária, em Ribeira Brava, tornou-se um centro de peregrinação. Com a expansão marítima, os portugueses levaram a devoção ao Brasil, onde se fundiu com tradições locais.

Devoção no Brasil: Mineração e Sincretismo
No Brasil colonial, Nossa Senhora das Candeias foi adotada como padroeira de cidades como Curitiba (PR) e Salvador (BA). Em Minas Gerais, mineradores a invocavam por proteção nas perigosas minas de ouro. Sua imagem, muitas vezes retratada com o Menino Jesus e uma vela, era carregada em procissões iluminadas, reforçando seu papel de guia espiritual.

A devoção também se entrelaçou com práticas afro-brasileiras. No Candomblé e na Umbanda, Nossa Senhora das Candeias é associada a Oxum, orixá das águas doces e da maternidade, exemplificando o sincretismo que permitiu a preservação de identidades culturais sob o jugo colonial.

Iconografia e Simbolismo
Na arte sacra, Maria é representada com uma vela na mão direita e o Menino Jesus no braço esquerdo, às vezes acompanhada de um rosário. As velas simbolizam fé, purificação e a iluminação trazida por Cristo. Em algumas regiões, os fiéis levam velas abençoadas para casa, acreditando em seu poder protetor.

Cultura e Celebrações Contemporâneas
Hoje, as festas em honra à santa combinam elementos religiosos e culturais. Em Salvador, a celebração inclui missas, procissões noturnas com velas e apresentações de samba de roda. Em Portugal, destaca-se a romaria da Madeira, com trajes tradicionais e cânticos. A data também é marcada por bênçãos de velas e gestos de solidariedade, como doações a necessitados.

Conclusão
Nossa Senhora das Candeias transcende fronteiras religiosas, encarnando valores universais de esperança e proteção. Sua história reflete a adaptabilidade da fé católica a contextos diversos, desde as minas brasileiras até as comunidades rurais portuguesas. Como símbolo da luz que dissipa as trevas, sua devoção continua a inspirar milhões, unindo tradição e espiritualidade em um legado perene.

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