Vigilância ambiental identifica aumento de cloro na rede de abastecimento de água

Por Redação
10 Min
Foto: Ilustração

Setenta e oito localidades de Salvador e mais oito municípios da Região Metropolitana e do Recôncavo Baiano estão em racionamento por conta de alterações na qualidade da água distribuída pela Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa). Os relatos de moradores que sentiram coceira no corpo e ardência nos olhos ao entrar em contato com a água das torneiras foram publicados com exclusividade pelo CORREIO.

Desde o final de semana, o problema afetava moradores de sete bairros de Salvador, como Subúrbio Ferroviário, Cajazeiras e Itapuã, além de dois bairros de Lauro de Freitas. Mas, ontem, a Embasa informou que precisou reduzir a oferta de água “para corrigir a alteração temporária das características da água”.

Segundo a empresa, a medida teve que ser tomada “devido às fortes chuvas que caíram nos mananciais do sistema de abastecimento e que mudaram a composição da água”. O racionamento vai durar até que a água volte à normalidade. Até lá, moradores devem fazer uso racional.

A principal suspeita é de que tenha ocorrido um pico na quantidade de cloro e que isso tenha afetado o Potencial Hidrogeniônico (PH) da água. Nesta quinta (16), equipes da Vigilância Ambiental de Salvador estiveram nesses bairros e coletaram amostras da água distribuída pela rede de abastecimento. Segundo o coordenador da pasta, Ricardo Lourenço, os testes apontaram aumento na quantidade de cloro, mas o teor estava dentro do que é exigido pelo Ministério da Saúde.

“Salvador tem média histórica de cloro na água de 0,6 mg/l a 1,2 mg/l. Nas coletas desta quinta-feira (16), encontramos de 1,6 mg/l a 1,8 mg/l. Então, houve uma elevação da curva, mas a determinação é de que seja até 2 mg/l. Ou seja, ainda está dentro do que é exigido”, afirmou.

Lourenço acredita que a concentração maior de cloro tenha provocado reação em pessoas com maior sensibilidade, mas não descarta a possibilidade de que o acumulo estivesse maior que o permitido. “A quantidade estava em 1,8 mg/l, hoje (quinta-feira), mas não sabemos como estava no final de semana, quando as pessoas começaram a apresentar reação”, disse.

No caso da corretora de seguros Raymeire Vieira, 37 anos, o susto veio na segunda-feira (11). Trinta minutos após adicionar água ao lago artificial que tem em casa, as mais de 30 carpas começaram a morrer: “Foi uma noite de horror. Não sabia o que fazer, fora da água eles morreriam, dentro d’água estavam morrendo também”.

Segundo Lourenço, a Embasa deveria ter informado à Vigilância sobre o procedimento que faria na rede de abastecimento, mas isso foi feito apenas nesta quinta-feira (16), depois que a imprensa noticiou o fato. O Município vai notificar a empresa para que ela esclareça os procedimentos por oficio.

A prefeitura orienta que quem tiver problemas com a qualidade da água, contaminação do solo ou poluição do ar entre em contato com a Vigilância Ambiental através do 156.

Proteção
O cloro é importante no tratamento da água porque é usado como bactericida. Ele serve para matar microrganismos que fazem mal para a saúde humana. Mas, se a dosagem for exagerada, ao invés de proteger, a substância pode causar problemas.

O diretor do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Dirceu Martins, contou que, durante o período de chuvas, é comum que os córregos desaguam nos rios mais quantidade de água que o normal. Esse volume extra leva para os mananciais substâncias orgânicas, que resultam na proliferação de algas.

“O aumento dessa população provoca odores e gostos ruins na água. Quando se tem muita poluição e incidência de radiação ultravioleta nos reservatórios, elas também se proliferam e deixam várias substâncias na água que são difíceis de tratar”, contou.

A orientação para quem tem sensibilidade ao cloro é ferver a água antes de beber ou usar filtro. Os modelos com carvão ativado sãos os mais confiáveis. Banhos quentes devem ser evitados porque a substância vaporiza, o que pode provocar irritação nos olhos.

Fiscalização
Além de Salvador, outras oito cidades tiveram o abastecimento afetado (confira a lista abaixo). Juntos, os nove municípios afetados têm 3,4 milhões de habitantes, segundo último sendo do IBGE. Todos são abastecidos pelo Rio Joanes ou a Barragem de Pedra do Cavalo, na Região Metropolitana. O primeiro abastece 40% da capital e a segunda os outros 60% dos domicílios soteropolitanos.

Procurada, a Agencia Nacional de Água (ANA) informou que faz a coleta e análise da qualidade dos rios, mas que é de responsabilidade dos municípios avaliarem se ela está própria para consumo. Já a fiscalização das empresas responsáveis pelo abastecimento é dever das agências estaduais.

A Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa) afirmou que foi informada pela Embasa, na terça-feira (14), sobre o problema. A concessionária explicou para a Agersa que precisou aumentar a dose dos produtos químicos utilizados no tratamento para assegurar a desinfecção da água ofertada à população, e que isso foi necessário, sobretudo, para redução de cor e turbidez.

A Agersa disse que faz o monitoramento dos resultados e cobra da prestadora que siga as recomendações exigidas. Nos casos em que são identificadas irregularidades, as empresas são orientadas a corrigir o problema ou, dependendo da situação, apresentar uma solução alternativa de abastecimento.

A prefeitura de Lauro de Freitas, cidade mais castigada pelas chuvas do fim de semana, informou que o Departamento de Vigilância e Saúde Ambiental faz a análise da água duas vezes por mês e que a última coleta foi na segunda-feira, um dia depois do temporal. O resultado será divulgado nesta sexta-feira (17).

A assessoria afirmou que o Município não registrou casos oficiais de pessoas com reações pelo contato com a água. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) informou que não notifica os casos de coceira e irritação nos olhos que chegam aos postos de saúde e, por isso, não tem o balanço do número desses tipos de ocorrência dos últimos dias.

Chuva forte afetou Lauro de Freitas no final de semana
(Foto: Divugação)
Respostas
O presidente do Conselho Regional de Química (CRQ), Antônio César de Macedo, explicou que o excesso de cloro pode afetar o pH, uma grandeza da física que mede a quantidade de acidez, neutralidade e alcalinidade de substâncias. Ele disse que o órgão vai encaminhar um oficio para a Embasa solicitando esclarecimentos sobre quais medidas serão adotadas.

“O papel do Conselho é fiscalizar os profissionais e a qualidade técnica do serviço, ou seja, saber se as empresas têm trabalhadores capacitados para o serviço. Diante da situação, pedimos mais detalhes sobre o que está sendo feito”, afirmou.

O CORREIO questionou à Embasa quantas unidades consumidoras estão sendo afetadas pela redução na oferta de água, que começou na terça-feira (14), e de quanto foi essa redução, mas não obteve resposta.

A empresa também não respondeu se a ouvidoria recebeu reclamações sobre a qualidade da água, quais providencias estão sendo tomadas, nem quanto tempo vai durar o racionamento. A Embasa informou apenas que redução é contingencial e vai durar até que a água dos mananciais se estabilize.

A empresa recomenda que os moradores das áreas afetadas façam uso racional da água fornecida até que as condições de abastecimento voltem à normalidade.

Confira a lista de áreas afetadas:

RMS
Simões Filho, Lauro de Freitas, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Candeias e Madre de Deus, Busca vida em Camaçari, Acupe em Saubara.

Salvador
Águas Claras, Arraial do Retiro, Bairro da Paz, Arenoso, Barbalho, Nazaré, Saúde, Ribeira, Boa Viagem, Bonfim, Uruguai, São Caetano, Boca da Mata, Cabula, Cabula VI, Saboeiro, Caixa D´Água, Cajazeiras 2 a 11, Calabetão, Calçada, Caminho de Areia, Campinas de Pirajá, Pirajá, Canabrava, áreas altas de São Tomé de Paripe, Plataforma, Praia Grande, Porto Seco, Castelo Branco, Cidade Nova, Coutos, Curuzu, Dom Avelar, Doron, Engomadeira, Fazenda Grande do Retiro, Fazenda Grande 1 a 4, IAPI, Itacaranha, Itapuã, Nova Brasília, Piatã, Patamares, Stella Maris, Pau da Lima, Pernambués, Itinga, Jardim Cajazeiras, Jardim das Margaridas, Jardim Santo Inácio, Jardim Nova Esperança, Lapinha, Liberdade, Lobato, Macaúbas, Mata Escura, Mussurunga, Pero Vaz, Rio Sena, Sete de Abril, Sussuarana Nova e Velha, Tancredo Neves, Trobogy, Vale dos Lagos, Valéria, Vila Canária, ilhas de Bom Jesus dos Passos, dos Frades e de Maré.
Correio 24

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