Projeto ‘Escolas Culturais’ leva transformação cultural e social para colégio em Candeias

Por Redação
9 Min
Foto: Ascom SJDHDS

O objetivo é promover a proteção social individual e coletiva, mas a participação de membros da rede socioassistencial dentro do Projeto Escolas Culturais tem transformado vidas em toda a Bahia. Um desses casos aconteceu no Colégio Estadual Cidade de Candeias, localizado no município homônimo, na Região Metropolitana de Salvador. Membros do corpo diretivo, professores, alunos e famílias se integraram numa rede articulada que tem um olhar integral para a escola.

Lançado em 2017, o Projeto Escolas Culturais tem o objetivo de transformar as unidades escolares em centros culturais, na medida em que incrementa a arte e a cultura no currículo e alia a oferta de cursos de qualificação e formação profissional nas respectivas áreas, além de promover uma ampla integração com a rede de proteção social. É nesse contexto em que a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) está inserida. O trabalho é feito em conjunto com as secretarias estaduais da Educação, de Cultura e com a Casa Civil. Atualmente, 85 unidades em toda a Bahia participam do projeto.

Localizado no Dom Avelar, bairro pobre e com altos índices de violência da cidade, as ações de promoção da cidadania e articulação em rede eram realizadas de maneira individual, muitas vezes pela própria diretora, Amélia Gomes. Há 10 anos como diretora do colégio e com 32 anos de serviços prestados na educação, a diretora fala com orgulho das ações que levou à cabo na unidade e, também, sobre a importância da chegada do Escolas Culturais ao Colégio Estadual Cidade de Candeias, único na cidade que abriga o projeto.

“Nosso trabalho aqui, junto aos professores, já atuava pensando em ações articuladas, mas de fato há uma dificuldade de execução. A partir do momento em que o Escolas Culturais chegou, nós tivemos as reuniões, eu vejo como facilitou muito a nossa atuação. Já tenho articulação direta com o Conselho Tutelar, com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), então vamos resolvendo e dando respostas mais rápidas e práticas às demandas que surgem no ambiente escolar”, pontua Amélia.

De acordo com a gestora escolar, a unidade tem registrado muitos alunos com casos de depressão e outros transtornos, além da questão do bullying, ainda muito forte no ambiente escolar. No entanto, ela acredita que a presença e a parceria com o CREAS, por exemplo, ajudou a enfrentar as questões de maneira mais forte, procurando ouvir, entender e aconselhar pais e alunos sobre a melhor abordagem para as suas questões individuais.

“A parceria aqui foi muito efetiva no sentido de ampliar o desenvolvimento social e a assistência social dentro do ambiente escolar. Tivemos reunião de pais com a participação de um psicólogo do Creas, o que foi muito importante para escutar eles falando sobre as diferentes questões que são enfrentadas pelos filhos. Ao mesmo tempo, o profissional é alguém que pode dar uma orientação, um conselho e até encaminhar para outros serviços dessa rede para buscarmos uma solução”, diz a diretora.

O trabalho integrado com o Creas, unidade mantida pela Prefeitura Municipal de Candeias, é realizado a partir do diálogo direto da direção escolar e coordenação cultural do Escolas Culturais. O intercâmbio começou com uma reunião, no início do projeto, em agosto de 2018, que contou com a presença da coordenadora do Creas, Lígia Souza Cruz. A partir daí, a equipe tem estado presente nas ações e iniciativas da escola, participando também das reuniões de pais e responsáveis.

Numa ação inédita, um psicólogo do centro de referência participou de reunião de pais. O objetivo era ouvir as questões, angústias, preocupações, críticas e elogios dos pais no intuito de acolher e aconselhar sobre problemas recorrentes entre a população escolar, especialmente depressão e bullying. A participação e o engajamento dos pais, além do saldo positivo desse primeiro encontro, marcaram a equipe da escola e do Creas.

“Eu acredito que foi muito positivo, especialmente porque contamos com a ampla participação dos pais e, também, dos alunos. Acho muito importante manter o diálogo, ainda mais quando temos contextos familiares tão diferentes e às vezes extremamente sensíveis do ponto de vista psicológico e social. Eu acredito que todos nós temos que estar juntos, até porque, o Estatuto da Criança e do Adolescente preconiza isso: a participação não só da escola e do poder público na proteção contra violação de direitos, mas, também, a sociedade civil”, explica Lígia.

Coordenador cultural no colégio de Candeias, José Amorim, conhecido como JD, afirma que a grande sacada do Escolas Culturais é conseguir manter o diálogo entre escola, artistas, poder público e todos os serviços de assistência social e saúde, tornando a articulação efetiva. “Nós temos muitos desafios, mas eu vejo o reflexo desse trabalho integrado aqui. Estamos num colégio escolhido estrategicamente, localizado numa área extremamente vulnerável socialmente, então a nossa ação tem um impacto nessa comunidade escolar e na cidade também”, comenta o coordenador, que também é artista do hip hop, militante do movimento negro e estudante de Produção Cultural na Universidade Federal da Bahia.

Para o estudante do 1º ano, Jeanderson Marques, de 17 anos, as iniciativas são uma maneira de despertar, dentro dos alunos, sentimentos e talentos que muitas vezes estão adormecidos ou esquecidos. “Tudo que as pessoas precisam é de oportunidade, que foi o que eu tive aqui. Pude me expressar, dançar e fazer o que eu gosto”, afirma o jovem, que além de dançar também desfila profissionalmente. A moda, aliás, seguirá no radar do estudante, que deseja prestar o vestibular para moda. “Aqui, nós participamos de diversas oficinas, eu mesmo participei das oficinas de teatro e dança, e posso garantir que foi uma experiência fantástica”, diz o jovem.

Desde o início do projeto em Candeias, foram realizadas 33 atividades articuladas em rede com a participação da unidade escolar, das secretarias municipais de Educação, Esporte e Desenvolvimento Social de Candeias, além do Creas, Centro de Referência em Assistência Social (Cras) e Centros de Atenção Psicossocial (Caps), além das secretarias estaduais de Educação, de Cultura e de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social. E não só: mais de 14 eventos foram realizados, entre eles palestras, mostras de artes, exibição audiovisual, campanhas temáticas (Consciência Negra, Outubro Rosa, por exemplo), além das formações em dança e música, com coral.

“Eu acho que o Escolas Culturais chegou como um divisor de águas para por em xeque essa falta de diálogo entre os diferentes entes. Nós conseguimos convergir o corpo docente, os alunos, os pais e responsáveis, a comunidade e as instituições, mas precisamos superar a burocracia, que não está habituada a inovações como estas”, completa JD.

Segundo a diretora Amélia, a inovação a partir da experiência da educação, da cultura e do desenvolvimento social é uma grande oportunidade para todos. “Eu digo a todos os meus alunos e alunos que a educação é capaz de nos levar aonde quisermos. Eu sou fruto da escola pública, foi a educação que transformou a minha vida. Fiz a minha graduação, minhas especializações e pude melhorar a minha vida a partir disso. Aqui na unidade, nós temos vários exemplos de alunos que tiveram a vida transformada pela educação. Somente esse ano, tivemos 30 alunos aprovados no vestibular. Não há saída para melhorar a sua condição de vida que não passe pela educação”, finaliza, visivelmente orgulhosa do trabalho realizado.

Compartilhe Isso