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Cepa indiana: 9 navios de países com casos registrados chegam ao Porto de Aratu em Candeias

Porto de Aratu receberá navios da Noruega, Panamá e Singapura (Arquivo CORREIO)

Entre a última sexta (28) até o próximo sábado (5), nove navios de países onde circula a cepa indiana do coronavírus – Noruega, Panamá e Singapura – atracaram ou são esperados no Porto de Aratu, segundo a programação disponível no site da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), colocando a Vigilância Sanitária em alerta no estado. O último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que pelo menos 53 países registraram casos dessa variante.

Há 11 dias a cepa indiana foi encontrada em um navio atracado no Maranhão. Segundo o Ministério da Saúde (MS), existem, até o momento, 8 casos dessa nova variante confirmados no Brasil: seis no navio que está na costa do Maranhão, um em Campos dos Goytacazes (RJ) e um em Juiz de Fora (MG). Outro caso suspeito é monitorado, no Espírito Santo, e aguarda a conclusão de sequenciamento genético (leia ao lado).

Casos no Pará, Distrito Federal e Ceará foram descartados. Na Bahia, em Alagoinhas, no nordeste do estado, dois suspeitos também foram descartados após os exames de um deles darem negativo e, o outro não ter registro de contato com infectados da tripulação no Maranhão.

O MS ainda disse que todos os contaminados estão isolados e os contatos são monitorados pelos Centro de Informações Estratégicas em Vigilância e Saúde (CIEVS) locais. A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), por sua vez, disse que “não se pode impedir a circulação interna de pessoas”. O próprio governo estadual, no entanto, já emitiu alguns decretos que vetam a circulação do transporte intermunicipal e a saída de pessoas de casa, a exemplo do toque de recolher.

Casos isolados

A Sesab alega que não há circulação da cepa indiana no Brasil, pois os casos são isolados e, na Bahia, não há caso da cepa indiana registrado. A pasta ainda reforçou que a fiscalização em portos e aeroportos é de responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A Anvisa, por sua vez, respondeu ao CORREIO que, nos portos, “os controles sanitários estão muito bem estabelecidos”. Para que um navio entre no porto, a Anvisa diz que, antes, faz uma varredura nos registros do livro médico de bordo em busca de sintomas suspeitos e os tripulantes fazem exame RT-PCR no embarque e no desembarque, que precisa dar negativo.

Além disso, a Anvisa diz que, quando há qualquer suspeita a bordo da embarcação, ela é prontamente colocada em quarentena. “Ninguém entra e ninguém desce e a Anvisa determina a testagem de toda a tripulação”, afirma.

Ainda segundo o órgão, se não houver suspeita, “não há porque colocar a embarcação em quarentena apenas porque seus integrantes são indianos. Um grupo de trabalhadores não pode receber tratamento diferenciado em razão de sua nacionalidade”, diz a nota.

O infectologista Antônio Bandeira, coordenador da área de controle de infecção hospitalar do Hospital Aeroporto, discorda do protocolo da Anvisa. “Não tem sentido testar no porto só os sintomáticos ou quem está com suspeita, até porque a gente sabe que alguns escondem os sintomas, com medo de sua entrada no país ser bloqueada”, critica Bandeira.

O especialista explica que a maioria dos infectados pela covid-19 ou pelas variantes não apresenta sintomas. “Os assintomáticos correspondem a mais de um terço dos contaminados e podem contaminar como qualquer outro. É uma estupidez científica achar que a carga viral depende dos sintomas, porque a pessoa pode estar com baixa carga viral no nariz, por onde é feito o teste, e alta no pulmão”, esclarece.

Para ele, o correto a ser feito é a testagem de todas as pessoas que chegam ao Brasil, seja pelos portos, aeroportos ou rodoviárias. Se o teste der positivo, o passageiro deveria ser recusado de entrar no país ou estado, ou aguardar em quarentena.

Protocolos

A Codeba, responsável por administrar os portos da Bahia, não deu resposta sobre os protocolos seguidos nos portos e com a tripulação que atraca no estado. A companhia limitou-se a dizer que “executa, rigorosamente, ações de prevenção, em resposta à pandemia do coronavírus, em total alinhamento com orientações, resoluções e decretos das Autoridades em Saúde, nos âmbitos Mundial, Federal, Estadual e Municipal”, sem dar detalhes.

O diretor da Associação de usuários de portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, disse acreditar que exista um protocolo da Codeba. “Ela tem um procedimento padrão, que é observado e adotado em todos os portos brasileiros, que é o controle para evitar que as tripulações dos navios contaminem a população local e vice-versa. Mas não sei dar detalhes”, disse.

Villa afirma que não houve mudança de protocolo sanitário desde a chegada da pandemia ao Brasil, em março do ano passado. Segundo ele, o navio pode atracar, mas a tripulação não é autorizada a sair. A Codeba não deu informações quanto a isso. O diretor da Usuport diz que não ouviu nenhuma reclamação de usuários dos portos durante a crise sanitária.

O diretor jurídico do Sindicato Unificado dos Trabalhadores nos Serviços Portuários do Estado da Bahia (Suport-BA), Ulisses Souza, não sabe dizer se os protocolos estão sendo aplicados pela Codeba e fiscalizados pela Anvisa. “A Anvisa deveria estar abordando a tripulação antes da atracação no porto, porque depois eles já entram em contato com uma série de pessoas, então eles devem ir a bordo fazer esses testes. Mas o trabalho dela e da Codeba é independente, os trabalhadores dos portos só vão a bordo depois de o navio atracar”, disse.

“Se a Anvisa está fazendo o trabalho dela, estamos protegidos, mas não temos como saber. Antes da liberação dos órgãos competentes, não existe contato do pessoal em terra com o navio, não temos responsabilidade nenhuma sobre isso”, acrescenta Souza.

Já Vanessa Costa, responsável pelo setor administrativo da Bahia Pilots Praticagem, empresa que faz manobras de navios, plataformas e balsas, diz não ter havido mudanças nas medidas aplicadas. A empresa diz ainda que não recebeu um comunicado da Anvisa-Bahia e que norteou suas práticas com base em documento da agência do Rio de Janeiro.

“Sei que existe o protocolo porque os práticos falam que eles são bem rígidos, que aferem a temperatura, que tem que manter o distanciamento e a roupa é descartável. Mas não sei se eles chegam a fazer o teste de covid”, acrescenta Vanessa.

O CORREIO procurou o Cievs de Salvador, mas não foi possível a entrevista antes do fechamento dessa reportagem. A Sesab não se pronunciou sobre as medidas aplicadas no estado. A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) também não respondeu.

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