As assistentes Marinoelia Andrade Santos, 51 anos e Jucilene Silva, de idade não divulgada, baleadas em um atentado na Caixa Econômica Federal (CEF), teriam ido na direção do colega Glei Mário de Lemos, 51 anos, que disparava contra o chefe, para tentar acalmá-lo e acabaram feridas. “Elas foram na intenção de chegar próximo a ele e evitar o pior”, informou um funcionário, que não quis se identificar. Marinoelia não resistiu e acabou morrendo.
O atentado ocorreu no início da tarde de anteontem, no 15º andar do Empresarial Dois de Julho, na Paralela, onde funciona toda a parte administrativa da CEF. Embora o crime tenha ocorrido em uma instituição federal, será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo a Polícia Civil, a decisão foi tomada após a avaliação de que o alvo do atentado foram pessoas e não a União. O caso ficará com o delegado Marcelo Sansão, da 2ª Delegacia de Homicídios.
No início da tarde de anteontem, Glei Mário tentou atirar contra o coordenador dele na Gerência de Fundos de Garantia (Gifug), Jorge Silva Oliver, que conseguiu se desviar dos disparos, sofrendo uma luxação no ombro, após cair. Antes de tirar a própria vida, Glei Mário baleou duas colegas de trabalho.
Após o atentado, que deixou duas pessoas mortas e duas feridas, a CEF informou ontem que ainda não há previsão para que a Gifug, que funcionava no 15º andar, retorne as operações. A Caixa informou ainda que funcionários e familiares estão recebendo o suporte de uma equipe multidisciplinar formada por médico do trabalho, psicólogo e assistente social.
No prédio, o clima ontem era de tristeza. Os seguranças redobraram as atenções, permitindo apenas a entrada de funcionários com a devida identificação. Um dos trabalhadores, que não quis se identificar, revelou que a rotina permaneceu a mesma, mas que a tragédia ainda estava sendo muito comentada entre os colegas de trabalho.
Morador há mais de 30 anos da Pituba, Glei Mário também era tido pelos vizinhos como uma pessoa tranquila. Ele vivia com a mãe e o irmão em uma edifício da Rua Ceará, desde a construção do imóvel. Um dos funcionários do prédio, que pediu para não ser identificado, contou que viu quando o bancário deixou o edifício, na manhã do atentado, a caminho do trabalho.
“Ele passou por mim, me deu bom dia, entrou no carro e saiu, como fazia sempre. Era uma pessoa boa, nunca teve problema com vizinho nenhum. Ninguém esperava que isso fosse acontecer não, foi uma surpresa mesmo. Nunca estava de cara feia. Se ele tinha algum problema era no trabalho e não aqui”, afirmou. Outro vizinho, que também não quis se identificar, disse ainda que o bancário era “legal, tranquilo e brincava muito com os funcionários”.
Surto
Segundo o médico psiquiatra da Clínica Holiste, Victor Pablo, a estrutura de uma personalidade frágil combinada com um quadro de depressão podem levar a um quadro psicótico e paranoico, principalmente, quando as pessoas não desenvolvem uma boa capacidade de enfrentamento. “Nesse dia de fúria, ele pode ter projetado toda a culpa no ambiente de trabalho e no chefe”, pontua o especialista.
Ainda segundo o psiquiatra, pessoas mais próximas e íntimas do indivíduo precisam ficar atentas a estes sintomas, antes que haja um surto. “Eles ficam menos pacientes e ativos, geralmente por conta de uma perda de cargo ou de salário. Podem tomar uma atitude de vingança. Por isso é tão importante chamar a atenção para o estresse que o ambiente de trabalho pode acarretar e os efeitos disso na vida deste profissional”.
por iBahia