Pedidos para Deus: ritual queima as fitinhas do Senhor do Bonfim

Por Redação
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Pedidos para Deus: ritual queima as fitinhas do Senhor do Bonfim
Ritual é realizado anualmente em frente à Basílica do Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

A crença nos pedidos feitos com as fitas do Senhor do Bonfim é um símbolo baiano. E todos garantem que, se a fita partir com o tempo, o pedido vai se realizar. Amarrar no gradil da Basílica da Colina Sagrada, então, é certeza que a prece será cumprida. O que poucos sabem é que as fitas vão sendo retiradas durante o ano, para serem queimadas em frente à igreja. No fim da tarde desta sexta-feira (13), as fitas do ano passado viraram cinzas, em meio a orações de fiéis emocionados.

Serena, dona Elisa Mendonça explica o motivo do ritual: “é a fumaça que leva os pedidos para Deus”, garante a aposentada. O reitor da Basílica, padre Edson Menezes, confirma. “A fumaça é simbólica. Ela sobe, então tem esse sentido, são os pedidos que sobem para Deus. Simbolicamente é isso”, pontua.

A dona de casa Aristela Aquino, 65, acredita. E comprova com a ajuda do Senhor do Bonfim no seu divórcio conturbado. “Meu marido não aceitava a separação. Amarrei a fita e pedi para que ele ficasse longe de mim. Se conseguisse, prometi que vestiria branco toda sexta-feira”, conta. O pedido funcionou. “Ele viajou para o interior, para ficar quinze dias. Está lá até hoje”, comemora Aristela, que, conforme prometeu, vestia branco.

As fitas precisam ser retiradas, pois vão se estragando ao longo do ano. E também é necessário liberar espaço para que mais pessoas possam praticar sua fé no Senhor do Bonfim. “É preciso tirar por que elas passam por um processo de deterioração. Nós tiramos e guardamos, e depois queimamos. Antes tinha uma pessoa que tirava e jogava fora. Depois que cheguei aqui, percebi que não posso jogar fora um objeto que as pessoas usam com tanta fé”, justifica padre Edson.

Para o padre, o ritual de queimar as fitas é um sinal de respeito à crença dos baianos e turistas, que fazem seus pedidos durante todo o ano. “Queimamos para respeitar um instrumento de expressão da fé das pessoas, que amarram as fitinhas, dão três nós e acreditam que elas irão conseguir aquilo que pedem. É uma forma de valorizar essa expressão popular. Não podemos jogar em qualquer lugar um instrumento que é um canal para Deus”.

Além das fitas, o ritual também queima os pedidos, escritos em pedaços de papel, que são depositados em caixas que ficam dentro da Basílica. Antes, no entanto, voluntários retiram cédulas que são colocadas junto com os pedidos, entre outros itens inusitados. “As pessoas têm toda uma fé nos pedidos. Elas colocam muitos currículos. Pedem emprego e coloca o currículo junto”, conta a voluntária Eliana Nunes.

Quando a fumaça ficou muito forte, a roda se dissipou. Mas a cabeleireira Avani Nascimento, 62, continuou no local. Voluntária da Basílica, coube a ela terminar de jogar todas as fitas no fogo para garantir que todos os pedidos fossem cumpridos. “As pessoas têm essa fé e estamos aqui para ajudar. Assumi essa missão e cumpro com muita fé”, disse, orgulhosa. Se depender de gente como Avani, a Colina Sagrada vai continuar símbolo de preces atendidas.

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