Fotos de exposição homoafetiva nas ruas de Salvador são alvo de vandalismo: ‘Só bala’

Por Redação
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Vândalo escreve ‘Só bala’ na testa de artista em exposição fotográfica — Foto: Divulgação

Uma exposição fotográfica que retrata troca de afeto entre dois homens foi atacada por vândalos, na terça-feira (2), em Salvador. Instaladas em muros no centro da capital baiana, as imagens foram rasgadas e riscadas. Em uma das fotos, que mostra o rosto do idealizador da obra, foi escrito “Só bala”. A frase foi deixada na testa do artista.

A exposição foi instalada entre a noite da segunda-feira (1º) e a madrugada da terça. Os ataques ocorreram poucas horas depois, durante a tarde de terça. Nesta quarta (3), o artista Luiz Antônio Sena Jr. contou ao G1 que se sentiu ameaçado pela frase. Ele diz que não imaginava o vandalismo.

“Eu me senti ameaçado. Foi algo com um tom de alerta. Mas, por outro lado, também acaba fazendo com que a gente pontencialize a ação de que a gente precisa, sim, levantar a questão, buscar lugares de reflexão, para mover a discussão na cidade”
O artista contou que o projeto foi aprovado em edital público e tem o acompanhamento da Fundação Gregório de Mattos. “Não estamos colando fotos em muros de locais alheios. Foram espaços estudados. Temos autorização”, contou Luiz.

O G1 entrou em contato com a entidade, por meio de assessoria de imprensa, que informou que deve emitir um comunicado sobre o assunto na quinta-feira (4).

Intitulada como “É só amor”, a exposição traz fotos em preto e branco do artista beijando, abraçando e segurando a mão de outro homem. Os pontos rasgados pelos vândalos são exatamente os locais onde estão as trocas de afeto.

“A gente está falando de amor, da possibilidade da homoafetividade existir de modo respeitável. São direitos de existir, de amar. Se essa pessoa é capaz de violentar algo assim, que não tem nada de promíscuo, de carnal, que só são ações de amor, de modo poético, creio que ela seja capaz de agredir uma pessoa e até provocar a morte se ver essas cenas pessoalmente. O bilhete que está escrito na minha testa, naquele mural, me leva a crer nisso”, diz o artista.

As obras estavam na primeira etapa da ação. Outras imagens seriam coladas nos próximos dias. Em seguida, o artista iria fazer uma intervenção jogando tinta vermelha nas imagens, simbolizando, justamente, a homofobia. Com o ataque, o processo foi interrompido.

“Tomamos o maior susto. Não foi uma ação aleatória, não foi uma ação de desconforto. Foi uma intervenção com discurso de ódio, com tom de ameaça. A gente entendeu a gravidade do que tinha acontecido”
Segundo Luiz, ainda não foi registrado Boletim de Ocorrência (B.O.) sobre o caso na Polícia Civil. O artista contou que está buscando auxílio jurídico para saber qual posição tomar em relação ao vandalismo. Até lá, as obras continuarão instaladas.

“Estamos buscando contato com advogados para entender que tipo de atitude a gente pode tomar. Quero mais do que registrar um B.O. Estamos vendo se podemos acionar o Ministério Público. Estamos dialogando com o pessoal do jurídico”, afirmou Luiz.

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