Pelo menos duas pessoas morreram e mais de 68 ficam doentes após serem atingidas pelos sintomas de febre alta, dor de cabeça, dores musculares e pés inchados. Moradores diversos bairros de Salvador e de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), procuraram a equipe de reportagem do Aratu On para denunciar a falta de medidas para controlar a situação e descobrir o motivo da chamada "doença misteriosa".
"As emergências não têm qualificação para diagnosticar a tal doença misteriosa. E nem há uma preocupação para que esses casos sejam notificados. Os profissionais tratam com desdém, fazem o paliativo e mandam pra casa. Sem fazer exames, sem fazer um estudo sobre o caso, tratando como uma simples virose", desabafou Gisele Amado, moradora do bairro de Plataforma que teve o irmão de 19 anos acometido pela doença.
"Meu irmão passou uma semana com febre, 12 dias com coceira, as dores e o inchaço permanecem até hoje. Sem mencionar que o rosto, as mãos e ombros incharam também", relatou a jovem. Gisele acrescentou ainda que o irmão só melhorou após procurar o serviço de emergência da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) três vezes.
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"A minha mãe, Rita Lucia Carvalho, 52 anos, teve antes do Carnaval. Na UPA falaram que era Zica. Só mandaram beber bastante água e um remédio para dores musculares. Aqui na rua cinco pessoas estão com os mesmos sintomas, e outras que ouvimos falar mas não temos proximidades. Se investigar pelo bairro vão surgir ainda mais", desabafou Selenita Carvalho, de 29 anos, moradora da Rua Benedito Araújo, no bairro Castelo Branco .
A Associação de Moradores do bairro Mirantes de Periperi acionou a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) após 68 pessoas apresentarem os sintomas na Rua Rua Antônio Teixeira. A SMS informou que já tem uma suspeita para a "doença misteriosa": equipes de assistência e vigilância foram enviadas ao local para investigar o possível surto de arboviroses (dengue, zika e chikungunya).
"Agentes de combate às endemias já realizam o bloqueio vetorial contra o Aedes com aplicação de inseticida, uma vez que os sintomas apresentados pelos pacientes são indicativos para arboviroses", informou em nota.
Ainda segundo a SMS, a ocorrência não tem ligação com as mortes dos moradores da comunidade Muribeca, no Subúrbio Ferroviário, Ícaro da Silva Duque, de 19, e Luan Bastos dos Santos, de 15 anos. Os jovens também tiveram febre, dor de cabeça e hemorragia mas não resistiram aos sintomas.
ALERTA
A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) entrou em estado de alerta no dia 22 de fevereiro após receberem a notificação de 3.725 casos de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti em 123 municípios. Feira de Santana lidera com 1.520 registros e quatro óbitos. Outros dois óbitos foram confirmados, sendo um em Salvador e outro em Candeias.
Em 2019 os casos de dengue cresceram em 301,4% comparados ao mesmo periodo do ano de 2018.O Governo da Bahia diz que distribuiu 7.400 kits para serem utilizados por agentes de controle de endemias dos 417 municípios. Cada kit é composto de 26 itens, como pesca larva, pipetas de vidro, tubos de ensaio, álcool, esponja, lanterna de led recarregável, bacia plástica, dentre outros materiais.
“Os agentes de controle de endemias têm um papel fundamental na eliminação de focos do Aedes aegypti, pois na visita aos imóveis, eles eliminam criadouros, orientam moradores e realizam mobilizações”, afirma o secretário da Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas.
O Ministério da Saúde divulgou um alerta para um potencial risco de surto da doença em 2020. Além da Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio de Janeiro e Espírito Santo também estão sob alerta.