Um grupo de ucranianos e brasileiros se reuniu no Farol da Barra, em Salvador, na tarde deste domingo (3), para protestar contra a guerra entre Rússia e Ucrânia. Com cartazes que pediam paz e o fim do conflito, cantaram o hino nacional ucraniano. A reunião atraiu turistas e soteropolitanos, que pararam para tirar fotos e fazer perguntas sobre a guerra.
Uma das que fizeram questão de parar e registrar o protesto foi a enfermeira Maiara Jacobina, de 37 anos. Ela é de Salvador e defende que todos, independentemente de qual país sejam, devem se informar sobre a guerra e demonstrar solidariedade.
“Todo mundo tem direito à paz, cidadania e respeito. Tem gente que acha que a guerra é lá do outro lado do mundo e não atinge a gente, mas atinge, sim. E a gente precisa se importar. São seres humanos com medo, sendo mortos ou vivendo à base de biscoito e água”, diz.
A ucraniana Anastasiia Syvash, 34 anos, está no Brasil desde 2020 e não vivenciou a guerra, mas sua mãe, Olha Syvash, de 63 anos, sim. Olha morava em Kharkiv e só chegou ao Brasil há quatro semanas, fugindo dos bombardeios. “Nossa cidade foi bombardeada, nós nem sabemos se a nossa casa está de pé, é muito doloroso”, afirma Anastasiia.
Olha conta que, enquanto estava lá, os bombardeios estavam acontecendo em cidades próximas a Kharkiv, por isso, houve pressa em deixar o país. Assim que chegou ao Brasil, recebeu notícias de que sua cidade foi atacada. “A prioridade para deixar o país era das crianças, pessoas com crianças e pessoas de mais idade. Depois, começaram a aparecer pessoas mobilizando meios de sair da cidade, trens de evacuação para deixar o país, mas a demanda era muito grande, muitas filas. Caminhei durante cinco horas para chegar até a estação ferroviária para pegar o trem de evacuação”, lembra Olha.
Ela diz ainda que os dias em que esteve lá foram um verdadeiro pesadelo, mesmo que não tenha presenciado bombardeios. “Inicialmente, bateu um desespero de um modo geral em todo o país, mas, ao mesmo tempo, era difícil acreditar que era algo real. Mas foi um pânico, as pessoas correram para os mercados, então faltaram alimentos e remédios também. O fornecimento de água e eletricidade também foram afetados. Acreditamos que haveria uma solução rápida, mas, infelizmente, não foi o que aconteceu”, acrescenta.
Volha Yermalayeva, 33 anos, mora em Salvador, é belarussa e representante da Embaixada Popular de Belarus no Brasil. Ela está acolhendo as ucranianas, ensinando português e ajudando na socialização delas. Ela afirma que o principal objetivo do protesto é lembrar as pessoas de que a guerra não acabou e não deixar o tema ser esquecido.
“Estamos aqui para dizer que a guerra continua acontecendo, para lembrar as pessoas de que tem gente precisando de ajuda e solidariedade. São pessoas reais contando histórias reais sobre a guerra. Meu país está em uma ditadura desde 1994 e nós sempre olhamos para a Ucrânia como um exemplo de liberdade, um povo que conseguiu estabelecer um governo democrático. Então é muito difícil vê-los nessa situação de guerra. Agora o ditador cedeu um território belarusso para a Rússia atacar a Ucrânia. Eu sinto uma enorme vergonha disso”, desabafa.
Outras ucranianas que chegaram ao Brasil fugidas da guerra são Olesia, que chegou no último dia 27, e Vladyslava, que chegou no dia 1º de abril. Elas são cantoras e vieram para Salvador por intermédio de um projeto da Neojiba, programa do governo da Bahia gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Social pela Música (IDSM), que também irá acolher mais oito músicos. O programa foi lançado no dia 22 de março para ajudar músicos a fugirem da guerra.
O IDSM está se responsabilizando pela emissão de vistos e também pelo custeio das despesas dos jovens acolhidos, como deslocamento da viagem, hospedagem, refeições, ajuda de custo, além de oferecer apoio social e psicológico, com recursos de doadores.
Olesia Matei, de 27 anos, trabalhava no Kyiv National Academic Operetta’s Theatre, na capital Kiev. Cerca de uma semana depois do início da guerra, decidiu voltar para a cidade onde nasceu, Berehovo, para ficar com a família. “É difícil sair pensando que minha família está lá, mas eu acredito que eu poderia ser mais útil aqui do que lá, passar uma mensagem e trazer a representação artística ucraniana para o Brasil”, diz.
Olesia foi até a Hungria por terra, onde pegou um avião direto para o Brasil, mas conta que o que viveu em Kiev jamais será esquecido. “Havia bombardeio toda hora, a gente tinha que descer para porões, senti muito medo. Em Berehovo, as coisas estão melhores, mas não tem como relaxar. Todo dia eu ligo para a minha mãe para saber como estão as coisas por lá e todo dia a sirene que alerta sobre ataques aéreos toca”, diz.
Vladyslava Danuliuk, de 20 anos, conta que tem instalado o aplicativo do governo ucraniano que avisa quando as sirenes tocam. “Eu fico acompanhando daqui, aí quando vejo que toca, ligo para a minha família para saber notícias”. A família de Vladyslava está em Pobuzke, cidade entre Mykolaiv e Kropivnytske, que já foram bombardeadas. “É um clima de tensão e a gente não faz ideia de quando isso vai acabar”, finaliza.
Como ajudar?
Durante o protesto deste domingo, o grupo também arrecadou dinheiro para ajudar a comprar doações para aqueles que ainda estão na Ucrânia. Quem quiser contribuir pode fazer um Pix para a Representação Ucraniana-Brasileira, que está sendo organizado pela Embaixada da Ucrânia no Brasil. O número é o CNPJ: 78774668000183. O valor doado deve terminar em R$ 0,01 para que a finalidade seja identificada.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse neste domingo (3) estar “profundamente chocado” com as imagens dos civis mortos na cidade ucraniana de Bucha, perto de Kiev. Em publicação nas redes sociais, ele pediu uma investigação independente sobre o massacre que “leve a uma responsabilização efetiva”.
A guerra entre Ucrânia e Rússia teve início no dia 24 de fevereiro. De acordo com a ONU, cerca de 3 mil civis já foram mortos.
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