Salvador está na ponta do ranking de capitais brasileiras com maior número de adolescentes grávidas até o 9º ano escolar, o que corresponde a faixa etária de 13 a 15 anos de idade.
Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e apontam que, entre 2015 e 2019, a proporção de meninas estudantes do 9º ano que já haviam engravidado, dentre as que já tinham tido relações sexuais, passou de 6,2% para 17,3%, colocando Salvador no topo do ranking, ao lado de Maceió, em Alagoas.
Esses números têm preocupado a comunidade médica, que alerta para a saúde física e mental de meninas que se tornam mães ainda tão novas.
O ginecologista e obstetra Carlos Moraes explica as problemáticas de dados como esse. “Gravidez na adolescência no Brasil é uma questão de saúde pública. Os riscos para a mãe e bebê são muitos, como prematuridade, pré-eclâmpsia, abortamento etc”.
O médico destaca o que seria a principal maneira de prevenir uma gravidez tão precoce, que deve ser a educação.
“Esse assunto precisa deixar de ser um tabu e começar a ser discutido nas famílias e nas escolas”, defende. “Além dos riscos à saúde, existem os fatores não relacionados às questões obstétricas”.
Nesse caso, o ginecologista se refere às questões socioeconômicas que essas jovens mães ficarão submetidas após a gravidez.
Essa precocidade “é mais comum em meninas com menor escolaridade, menor renda e maior dificuldade de acesso aos serviços. Muitas terão evasão escolar, não farão pré-natal, realizarão abortamento em condições inseguras. Isso contribui para o aumento da mortalidade materna e nascimento prematuro”, diz o especialista.
O estudo do IBGE também identificou outras questões, como o fato de que, em Salvador, cresceram as proporções de estudantes que, no 9º ano, já tinham consumido álcool ou drogas alguma vez na vida.
A psiquiatra da infância e adolescência Danielle Admoni explica esse comportamento. “Os jovens estão se arriscando mais, tanto com o uso de substâncias como o não uso de preservativos, o que é uma característica da adolescência, de testar limites, achar que nada ruim vai acontecer”, diz Danielle.
Ela ainda explica de onde vem essa característica. “Eles têm uma dificuldade grande no córtex pré-frontal, que é justamente dessa condição mais inibitória, do ‘não fazer’. Por isso o ideal é que eles não sejam expostos a essas possibilidades”.
Danielle destaca a importância de falar sobre esses assuntos em casa. “Quanto mais ciente e orientado o adolescente for, menos curiosidade ele vai ter”, diz.