Candomblecistas e artistas condenam incêndio em estátua de Mãe Stella de Oxóssi

Por Redação
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Foto: Reprodução / Fundação Gregório de Matos

 

O incêndio na estátua de Mãe Stella de Oxóssi, localizada em Salvador, na madrugada no domingo (4) gerou protestos de candomblecistas e artistas baianos. Para os adeptos da religião, o ato de vandalismo configura “interolância religiosa”. Em nota publicada no Instagram, o llé Axé Opô Afonjá, repudiou a situação e afirmou que “tomará as devidas providências junto às autoridades competentes”.

A carta foi assinada pela Mãe Ana de Xangô Obá Gerê. “Repudiamos com veemênica o ato criminoso contra nossa ancestral que, ao longo da sua história, além de sempre defender o direito à liberdade religiosa para todos – inclusive adeptos de outros credos”, diz a nota.

Em nota, a Rede de Mulheres de Axé do Brasil parabenizou a Fundação Getúlio Vagas por “rapidamente efetuar boletim de ocorrência junto ao órgão competente” e solicitou que sejam analisadas as câmeras de segurança da Avenida Mãe Stella de Oxóssi, para identificar e punir o autor pelo crime praticado.

Ainda no domingo, um boletim de ocorrência foi registrado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM). O órgão, vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), também solicitou à Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) a retirada do monumento após perícia, conforme citado pelo prefeito.

Artistas se manifestam

Carlinhos Brown fez uma postagem no Instagram lamentando o ocorrido. O músico afirmou que “Mãe Stella está no Orum (no céu) em um ponto inatingível pelas nossas discórdias e pelas nossas disvalias”.

“O que o povo afroascendente quer é paz. Não estamos pedindo nada de ninguém, não estamos obrigando e envolvendo em nenhum tipo de crença. E que fique claro que Deus nem sequer tem religião, foram os homens que criaram esta idéia separatista através de um Deus que impusemos ao outro nos faz se perder. Coloca o mundo sem solução para as violências, para a fome e para tantas outras coisas. Porque somos nós ou alguns de nós semeadores da discórdia. Enquanto houver discórdia, Deus não ouvirá ninguém”, escreveu na legenda da foto da escultura de Mãe Stella.

Nos comentários, diversos artistas manifestaram apoio ao posicionamento de Brown, como Fafá de Belém, Emanuelle Araújo e Lulu Santos.

Margareth Menezes também se manifestou pelas redes sociais. “Essas coisas só mostraram o piscicopatismo do extremismo religioso. Mãe Stella deixou um legado imenso de benéficos e bênções nas vidas de muitas pessoas. Que os culpados sejam punidos”, escreveu nos stories do Instagram.

O cantor Tonho Matéria também lamentou o caso e afirmou: “Pra mim é impossível acreditar que Deus exista odiando àqueles que não estão em templos luxuosos carregados de ódios e intolerâncias”.

 “A violência e a intolerância contra as religiões de matriz africana são inadmissíveis numa sociedade democrática, dentro de um estado laico. Mãe Stella de Oxóssi foi uma grande líder religiosa, uma mulher inteligente, culta e motivo de orgulho para todo povo baiano, pro povo brasileiro”, escreveu Daniela Mercury.

Sobre o monumento

Em 2019, a escultura foi pichada e uma placa arrancada. Oxóssi era o orixá de cabeça de Mãe Stella e um dos principais do Candomblé. Ligado à natureza, ele é responsável por prover as refeições de todos, além de ser um forte guerreiro e grande sábio. Oxóssi, que é caçador, carrega um arco e flecha.

O monumento foi instalado e inaugurado em abril de 2019, cerca de cinco meses após a morte de Mãe Stella. A yaloxirá morreu aos 93 anos, em dezembro de 2018, e foi uma das principais mães de santo do país.

A obra completa tem 8,5 metros de altura, incluindo uma base de concreto de dois metros. A estátua de Mãe Stella tem tamanho real e, somada ao trono onde está sentada, chega a mais dois metros de altura. Já Oxóssi, que também está em cima da base, tem 6,5 metros.

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