Diante de possíveis ameaças, a capital baiana está se preparando da melhor maneira possível. Segundo Flávio Almeida, capitão de fragata da Marinha, desde o ano passado está sendo elaborado um plano operacional das ações de defesa para os Jogos Olímpicos em Salvador. “Já tínhamos a bagagem dos eventos anteriores. A partir dessa experiência, começamos a traçar o nosso plano”.
Na próxima terça-feira, o plano de segurança será formalmente apresentado à imprensa. Ele adianta, porém, que a Marinha vai contar com a Tropa de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear, que fará varreduras na Fonte Nova e em hotéis.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) informou que, apesar de não haver riscos iminentes, o estado está se preparando. “As nossas unidades de inteligência, junto à Agência Brasileira de Inteligência, não detectaram nenhum tipo de informação a respeito. Mesmo assim, o trabalho de monitoramento continua”, diz nota.
Situações práticas estão sendo realizadas para treinar os profissionais. No dia 12 de junho foi feita uma simulação de explosões com bomba na Arena Fonte Nova. A situação fictícia contou com simulações de três explosões e voluntários que representavam as vítimas do atentado.
Na manhã do último sábado (16) foi a vez do metrô de Salvador ser palco de um simulado antibombas para as Olimpíadas. A ação foi promovida pela SSP-BA na estação de Pirajá. Também entraram em ação os bombeiros, a Polícia Militar, os Fuzileiros Navais, o Samu e funcionários do local.
Outras cidades do Brasil também realizaram simulações parecidas. No Rio de Janeiro, na última terça (19), fuzileiros navais participaram de treinamento para conter possíveis tumultos. Na quarta (20), em São Paulo, 60 homens das Forças Armadas fizeram simulação de resgate de reféns por ataque terrorista em uma estação de metrô.
Dez presos
A duas semanas do início da Olimpíada no Rio, cresce a preocupação com a segurança de brasileiros e estrangeiros que passarão pelo país. O Brasil, que se considerava fora da rota do terror que vem atacando diversos países pelo mundo, acordou ontem com a movimentação da Operação Hashtag da Polícia Federal (PF). A ação desarticulou uma célula terrorista ligada ao grupo extremista Estado Islâmico (EI) e prendeu 10 pessoas em sete estados diferentes. Outras duas pessoas tiveram prisão temporária decretada e são consideradas foragidas.
“Eles passaram de simples comentários sobre Estado Islâmico e terrorismo para atos preparatórios”, disse o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, justificando as prisões, e também os 19 mandados de busca e apreensão realizados, dois mandados de condução coercitiva cumpridos e mais de 130 policias envolvidos na ação.
Célula desarticulada
Os envolvidos participavam de um grupo virtual denominado Defensores de Sharia (antiga lei islâmica) e não se conheciam pessoalmente, exceto duas duplas que chegaram a se encontrar, de acordo com Moraes.
O ministro informou que “vários” fizeram o chamado “batismo no Estado Islâmico”, um juramento padrão feito pela internet e este foi considerado o primeiro e único “contato mais próximo” com o grupo terrorista. As investigações também apontaram que não há indícios de que eles recebiam financiamento do EI.
Ainda segundo Moraes, trata-se de um grupo amador, uma “célula desorganizada” que, no entanto, não pode ser ignorado pelas forças de segurança pública. “Era uma célula amadora, sem nenhum preparo planejado. Uma célula organizada não tentaria comprar uma arma pela internet”, acrescentou.
A Polícia Federal deu início às investigações em abril e monitorou mensagens trocadas pelo grupo em redes sociais como Telegram e Whathsapp. Pelas mensagens, a PF descobriu ações preparatórias como o início de um treinamento de artes marciais e o contato feito com um site de armas clandestinas no Paraguai para a compra de um fuzil AK-47 (Automatov Kalashnikov). O ministro disse que “em nenhum momento eles falaram em bomba”, mas “falavam em atirar” e por isso teriam tentado comprar o fuzil.
“Várias mensagens mostram a degradação dessas pessoas, comemorando o atentado em Orlando e em Nice, comentando o atentado anterior que ocorreu na França, postando e circulando entre eles as execuções que foram realizadas pelo Estado Islâmico”, acrescentou.
Lei antiterror
Os 10 presos ontem eram de sete estados diferentes: quatro de São Paulo e um do Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraíba, Ceará e Amazonas. O líder do grupo está preso em Curitiba.
Foram as primeiras prisões no Brasil com base na recente Lei Antiterrorismo (Lei nº 13.260/ 2016), sancionada em março pela presidente afastada Dilma Rousseff. Pela lei antiterror, os suspeitos podem pegar até 23 anos de prisão.
Essas também foram as primeiras detenções no Brasil por suspeita de ligação com o grupo terrorista Estado Islâmico, que atua no Oriente Médio, mas tem cometido atentados em várias partes do mundo.
Alexandre de Moraes afirmou que os serviços de inteligência brasileiros estão atuando em cooperação com o de outros países, inclusive da França e Estados Unidos, para evitar ocorrências durante a Olimpíada. Segundo ele, é “mínima a probabilidade de que haja algum ato terrorista no Brasil durante a Olimpíada”.
Perfil dos terroristas
Apesar do governo e da PF não terem divulgado os nomes dos detidos na operação de ontem, já se sabe que a maioria é jovem e não tem ascendência árabe.
A lista dos presos, porém, vazou para veículos de comunicação. Levi Ribeiro Fernandes de Jesus, de 21 anos, preso no Paraná, foi apontado pelos investigadores como líder da célula terrorista brasileira. Ele é natural de Guarulhos (SP) e morava no Paraná há dois anos. Levi trabalha em uma rede de supermercados e não tinha passagem pela polícia.
Para o juiz que autorizou a prisão dele, porém, Levi não tinha um papel proeminente em relação aos demais membros do grupo. O juiz Marcos Josegrei da Silva, titular da 14ª Vara Federal de Curitiba, falou ainda sobre as idades dos suspeitos. “São idades variadas, mas são pessoas em idade jovem, não muito mais velhas. Talvez varie dos 20 aos 40 anos”. O juiz disse que, apesar de nenhum deles ter aparentemente ascendência árabe, se comunicavam usando codinomes árabes em redes sociais e de mensagens. O juiz afirmou que a exaltação ao terrorismo foi uma das justificativas para as prisões temporárias.
“Há uma exaltação frequente a atos terroristas. Há afirmações de que as pessoas efetivamente integrariam organização terrorista. Há exaltação a atos terroristas acontecidos recentemente ao redor do mundo e afirmações do tipo que aquele ato é um ato nobre, um ato que deve ser parabenizado, que deve ser congratulado”, afirmou o juiz.
O jornal O Globo divulgou ontem uma lista que contém nomes e codinomes dos alvos da Operação Hashtag. São eles: Alisson Luan de Oliveira, Antonio Andrade dos Santos Junior (Antônio Ahmed Andrade), Daniel Freitas Baltazar (Caio Pereira), Hortencio Youshitake (Teo Yoshi), Israel Pedra Mesquita (Israel Pedra), Leandro França de Oliveira (Abu Khalled), Levi Ribeiro Fernandes de Jesus (Muhammad Al Huraia), Marco Mario Duarte (Zaid Duarte), Matheus Barbosa e Silva (Ismail Abdul-Jabbar Al-Brazili), Mohamad Mounir Zakaria (Zakaria Mounir), Oziris Moris Lundi dos Santos Azevedo (Ali Lundi), Valdir Pereira da Rocha (Mohmoud) e Vitor Barbosa Magalhães (Vitor Abdullah).
Internet é o principal meio para recrutar combatentes
Assim como no ataque à cidade francesa de Nice, na semana passada, os suspeitos presos ontem na Operação Hashtag foram radicalizados pela internet – um dos principais artifícios para recrutar combatentes. É pelas redes sociais que os membros do Estado Islâmico (EI) divulgam a causa.
Em fevereiro, o Twitter anunciou que deletou 125 mil contas ligadas ao EI. Nelas é possível verificar frases de ódio. Assim, os radicais monitoram os possíveis recrutas e os convocam para realizar ataques em nome de um “islã puro”. O EI é um grupo radical islâmico regido pelo autoproclamado califa Abu Bakr al-Baghdadi, que prega o combate ao Ocidente. Hoje, ele domina áreas da Síria e do Iraque, porém, sua meta é estabelecer um estado regido pela Sharia, a lei do islã.
Estima-se que o EI tenha cerca de 50 mil combatentes sírios, 30 mil iraquianos e mais de 25 mil estrangeiros. O surgimento do grupo se deu a partir da queda do regime de Saddam Hussein no Iraque, e o grupo voltou a crescer após a guerra civil na Síria, quando seus membros se juntaram aos rebeldes para lutar contra o governo de Bashar al-Assad.
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