Recentemente, veio a público o caso de uma menina de 12 anos que morreu depois de ter um problema grave de saúde – edema pulmonar e malformação e insuficiência renal – diagnosticado erroneamente como “gases”. O erro parece grotesco, mas é mais comum colocar a culpa nas bolhas gasosas abdominais do que se imagina. Conversamos com especialista para entender quais são as chances de isso acontecer.
Diagnóstico errado de gases: entenda o caso
Segundo o tio da vítima, em entrevista dada ao site de notícias G1, a menina reclamou de dores abdominais e foi levada à Unidade Básica de Saúde (UBS) de seu bairro, que fica na cidade de Iperó, interior de São Paulo. Na UBS, a família foi informada que o problema era “gases” e orientada a levar a menina para casa. Com a persistência do mal-estar, a menor foi levada a outra unidade de saúde, onde chegou, ainda de acordo com o tio, “com os lábios quase roxos e desmaiando”, mas não foi atendida pois estava fora da faixa etária atendida no local.
Foi então que a família seguiu para o último serviço de saúde, onde lhes foi informado que o quadro era grave. A menina morreu cerca de 40 minutos depois, diagnosticada com edema pulmonar e malformação e insuficiência renal.
É comum o diagnóstico ser tão errado assim?
O gastroenterologista Guilherme Andrade, do Hospital 9 de Julho (São Paulo), explica que, apesar de o caso em questão ser muito pontual, já que a doença que causou o desconforto é rara – acontece em 0,1 a 0,5 das crianças – e bastante grave, é relativamente comum que outros problemas de saúde sejam confundido com gases.
O especialista conta que algumas das causas de dor abdominal que podem ser confundidas com gases são apendicite aguda, pancreatite aguda, presença de cálculos na vesícula, úlcera gástrica e doença diverticular. Pode haver ainda alguma espeficidade alimentar, como a intolerância à lactose, substância presente no leite e derivados.
É possível acontecer, ainda, confusão entre gases e infarto, uma emergência médica que indica grave sofrimento cardíaco e também causa pontadas no peito. O gastroenterologista explica que isso acontece quando a válvula que fica entre o esôfago e o estômago é muito apertada e é distendida pelos gases. Em situações assim, a dor pode até se espalhar para ombro esquerdo e costas, distribuição parecida com a alteração do coração.
Como saber se são gases mesmo?
Existem aspectos relacionados à presença de gases no estômago e/ou no intestino que o médico vai detectar ao falar com o paciente ou seu familiar e durante o exame físico. Essas características são importantes por que excluem a possibilidade de algo mais grave. A seguir, o gastroenterologista pontua alguns deles.
Tem outros sintomas?
Febre, sangramento, vômito, falta de ar, irradiação da dor para outras partes do corpo e outros sintomas podem indicar que o problema não é gases, e sim algo mais grave que indique maior urgência.
Dor de gases é assim:
A dor de gases costuma aparecer na boca do estômago ou na parte de baixo do umbigo (mas também pode mudar de lugar) entre 30 e 60 minutos após a refeição. A sensação dolorosa tende a ser aliviada depois da flatulência, da eructação (arroto) ou evacuação.
Alimentos consumidos: quais foram?
Vale a pena investigar o tipo de refeição feita antes do início do desconforto. A distenção gasosa pode acontecer no estômago, situação que está mais relacionada à ingestão de refrigerante, cerveja, cafeína e alimentos condimentados ou gordurosos, ou no intestino, comumente causada por leite e derivados, leguminosas, brócolis, cebola, couve-flor, frutas secas, entre outros alimentos.
Palpação da barriga
Quando o médico palpar a barriga, caso sejam gases, ela vai estar apenas estufada, sem nenhuma alteração nos órgão abdominais, como inchaço, por exemplo.
Faça exames
O médico Guilherme Andrade explica que a barriga é uma caixinha de surpresas, por isso, alguns exames ajudam a evitar sustos. Um exame de sangue simples pode identificar inflamação, anemia, estado do pâncreas, do fígado e dos rins. Caso haja alguma alteração, é pedido um exame de imagem dos órgãos abdominais, como a ultrassonografia, por exemplo.
Se o serviço de saúde não contar com essa possibilidade e caso haja a suspeita de algo grave, o ideal é que você continue em observação ou seja transferido para outro local.