O fogo na casa noturna provocou a morte de 242 pessoas, além de deixar outros 636 feridos. Passada uma década, a Justiça não deu uma resposta definitiva sobre o que aconteceu e que crimes foram cometidos ali.
A advogada dos familiares, Juliane Muller Korb, em conversa com Splash, afirma que essas 40 famílias não foram consultadas pelo streaming antes da exibição da série e são contrárias à dramatização do caso, ou seja, a mistura entre fatos e ficção.
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“Os familiares querem justiça, não querem esquecimento. Querem que fale sobre o incêndio, como em outros documentários e produções jornalísticas, mas sem dramatização e sensacionalismo visto nessa série. Foi pesado para eles verem a cena do reconhecimento dos corpos no ginásio logo no trailer. Muitos não conseguiram fazer isso quando a tragédia aconteceu e, depois, nunca mais viram os corpos.”
Alguns voltaram a ter crise de ansiedade e de pânico por ver o trailer sendo exibido na televisão. “Eles assistiram na TV sem querer. Só o trailer os fez passar mal. Os pais não vão assistir. Muitos estavam estáveis em relação a sua saúde mental. É uma linha tênue, é tratado como uma série ficcional baseada em historia real, tudo ali é realidade”, diz a advogada
Além disso, esses familiares são contra a monetização da tragédia por terceiros. “A comercialização da tragédia incomodou muitos. A morte de pessoas vai gerar lucro à Netflix”, completa Juliane.
O grupo é coordenado pelo empresário Eriton Luiz Tonetto Lopes, que perdeu, à época, Évelin Costa Lopes, sua filha de 19 anos. Esses familiares se comunicam por dois grupos no WhatsApp. Nesta semana, vão acionar a plataforma de streaming extrajudicialmente para dialogar sobre as demandas do grupo.
A ação judicial envolvendo danos morais e sequelas médicas será analisada após conversa com a empresa. Procurada, a Netflix ainda não se pronunciou sobre o assunto. O texto será atualizando se houver resposta.
O que desejam essas famílias?
- Entender por que elas não foram ouvidas durante a produção da série e consultadas em relação à dramatização do caso;
- Abordar a responsabilidade afetiva e social das plataformas de streaming na produção de séries baseadas em casos reais;
- Reivindicar que parte dos lucros seja destinada à construção de um memorial.
- Pedir alteração do conteúdo do trailer, “que traz aspecto muito pesado”, e mudança na exibição dele na televisão
A advogada completa que os familiares não querem indenização pessoal. “Já que existe uma plataforma de streaming lucrando com isso, os familiares desejam a construção de um memorial em Santa Maria para promover a reflexão permanente da comunidade”, reitera.
Ação não é unanimidade
Ação é iniciativa de 40 familiares, diz a advogada. Já a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, criada para representar todas as vítimas do incêndio em 2013, emitiu nota afirmando que possível processo contra a Netflix não é uma iniciativa dela.
“A produção não retrata de forma individual os 242 jovens assassinados, mas sim um recorte das quatro famílias de pais que foram processados. Todos familiares de vítimas e sobreviventes retratados por personagens da obra estavam cientes e em concordância. Além disso, reiteremos que não estamos movendo nenhum processo contra as produções, nem pretendemos, por acreditarmos na potência das produções na luta por justiça e a luta por memória”, diz a publicação.