A preocupação dos médicos com o aumento do consumo desenfreado de remédios contra a insônia no Brasil tem crescido nos últimos anos. A inquietação se dá devido ao número alarmante de pacientes que têm ingerido quantidades abusivas desses medicamentos, como 40 ou 50 comprimidos de uma só vez.
O Zolpidem, um medicamento utilizado no tratamento da insônia há mais de 30 anos, viu sua demanda aumentar consideravelmente nos últimos meses. Uma das razões apontadas para esse cenário é a facilidade na prescrição médica. Em um caso extremo, um paciente chegou a consumir 300 comprimidos em um único dia.
De acordo com dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2018 foram vendidas 13,6 milhões de caixas do medicamento. Em apenas dois anos, esse número saltou para 23,3 milhões em 2020, registrando um aumento de 71% em um curto espaço de tempo. Desde então, as vendas anuais nunca ficaram abaixo dos 20 milhões de caixas.
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Diante desse cenário alarmante, alguns especialistas já consideram a situação no Brasil como um problema de saúde pública, comparável à crise dos opioides nos Estados Unidos.
Para lidar com a situação, a Anvisa anunciou uma alteração na forma de prescrição do Zolpidem no país. A partir de agosto, os comprimidos só poderão ser obtidos com uma receita especial, denominada tipo B – Azul. Anteriormente, era possível comprar o medicamento com uma receita de controle especial, de cor branca e com duas vias.
Em comunicado, a Anvisa justificou a medida com base no aumento dos relatos de uso irregular e abusivo do Zolpidem. A análise conduzida pela agência indicou um crescimento significativo no consumo da substância, assim como um aumento nos casos de eventos adversos relacionados ao seu uso. Além disso, não foram encontrados dados científicos que justifiquem a diferenciação regulatória para concentrações de até 10 mg do medicamento.
O Zolpidem, que inicialmente chegou ao Brasil com preços elevados, teve sua procura aumentada após a expiração da patente em 2007. Atualmente, existem pelo menos 14 empresas no país que produzem e comercializam versões do medicamento.
Classificado como um hipnótico, o Zolpidem é capaz de induzir o sono em cerca de 10 a 15 minutos após a ingestão. Antigamente, acreditava-se que esses medicamentos não causavam tolerância ou dependência. No entanto, com estudos mais recentes, percebeu-se que, ao longo do tempo, os pacientes desenvolvem a necessidade de aumentar a quantidade consumida para obter o mesmo efeito inicial.
Diante desse panorama preocupante, é fundamental que as autoridades de saúde e os profissionais da área médica estejam atentos para evitar o uso abusivo e os impactos negativos do Zolpidem na população brasileira. A mudança na legislação relativa à prescrição do medicamento é um passo importante na busca por um uso mais responsável e consciente desses fármacos.