A pesquisa científica possui uma dinâmica de logística e questões burocráticas que pesquisadores precisam aprender na prática. Nos Estados Unidos e na Europa, o papel da gestão da pesquisa, com profissionais focados nessas atividades, ganha relevância. O momento traz importantes reflexões para as instituições brasileiras.
Para debater o tema, a Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) reuniu, no dia 10 de junho, pró-reitores de outras universidades paulistas e especialistas no evento “Gestão da Pesquisa – Uma visão estratégica”. A transmissão está disponível no YouTube.
Anfitriã do encontro, a pró-reitora de Pesquisa da Unicamp, Ana Maria Frattini Fileti, falou sobre os trabalhos do recém-inaugurado Grant Office da instituição (leia mais em: agencia.fapesp.br/51679).
“A missão desse escritório é oferecer suporte para reduzir o trabalho de gestão dos coordenadores de grandes centros de pesquisa. A ideia é otimizar o tempo, para que se dediquem apropriadamente ao projeto de pesquisa. Além de realizar ações que façam o transbordamento das pesquisas desenvolvidas na universidade para a sociedade”, disse Fileti na abertura do encontro.
Diretor de Serviços em Pesquisa da Universidade de Kent, no Reino Unido, Simon Kerridge falou sobre as funções de uma unidade como a que ele dirige na instituição inglesa. Entre elas, a procura proativa de fontes de financiamento em nível nacional e internacional, treinamentos e mentoria, facilitação de parcerias estratégicas entre disciplinas e com parceiros e promoção de impacto e relevância social às pesquisas realizadas, entre outros.
“Este é um campo muito grande no Reino Unido, na Europa e provavelmente no mundo todo, que é o impacto da pesquisa. Quando a pesquisa é finalizada, no relatório final vai constar o que realmente acontece depois daquilo. Transferência de tecnologia, spin outs, mudança em políticas, como isso realmente beneficia as pessoas, como faz o mundo melhor”, resumiu.
Segundo o especialista, esse tipo de avaliação é tão importante para o público em geral quanto para os financiadores, que podem se tornar mais suscetíveis a apoiar futuras pesquisas de impacto de um determinado grupo de pesquisa ou universidade, dependendo do desempenho nesse fator.
Carlos Henrique de Brito Cruz, professor emérito da Unicamp, ex-diretor científico da FAPESP e atual vice-presidente sênior de Redes de Pesquisa da Elsevier, lembrou que os sistemas de ciência, tecnologia e inovação buscam cada vez mais impacto em pelo menos três dimensões: social, econômica e intelectual/científica.
Por isso, universidades têm se organizado para auxiliar os professores e alunos a obter mais impacto. Uma das formas de se fazer isso é o papel forte, embora nem sempre visível, do apoio institucional. Outra é o uso de dados para verificar, demonstrar e seguir os impactos.
“Em qualquer sociedade democrática, algum grau de burocracia para controlar e acompanhar o que está acontecendo precisa existir. A sociedade acredita que precisa saber quanto os professores fazem, quantos empregados existem, qual o benefício. Essa prestação de contas é essencial para as universidades. E uma parte disso pode ser feita pelos escritórios de apoio institucional à pesquisa”, disse.
Uma dessas tarefas é justamente “proteger” o pesquisador da parte burocrática do trabalho, para que ele possa se dedicar por completo ao ensino e à pesquisa. “Outra dimensão é atrair e selecionar os melhores candidatos à pós-graduação. Desenvolver profissionais que vão ser lideranças acadêmicas”, completou.
Ciência da ciência
Adriana Bin, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, falou do projeto Pesquisa da Pesquisa e da Inovação, conduzido pelo Instituto de Geociências da universidade, que avalia a pesquisa em diversas frentes.
Em uma delas, o grupo analisou o impacto das publicações científicas apoiadas pela FAPESP em políticas públicas entre 1992 e 2023. “Identificamos que quase 3 mil dessas publicações foram citadas em documentos de políticas”, contou.
Ao analisar como as publicações se comportam em indicadores tradicionais de produção científica, os pesquisadores observaram que são os mais citados, os que têm mais cooperação internacional e os que estão mais disponíveis em acesso aberto. “Em alguma medida, as métricas convergem”, resumiu.
O evento contou ainda com a presença de Marilda Bottesi, assessora especial do Grant Office da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp; Paulo Nussenzveig, pró-reitor de Pesquisa e Inovação da Universidade de São Paulo (USP); Reginaldo Barbosa, assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Juliana Juk, presidente da Associação Brasileira de Gestão e Administração de Pesquisa Científica (Brama).
O evento pode ser assistido na íntegra em: www.youtube.com/watch?v=4n-9r_huYQs.
Informações da Agência FAPESP