Um grupo de cientistas apoiado pela FAPESP descobriu um mecanismo inovador que permite ao teiú (Salvator merianae) utilizar o calor do próprio corpo para se aquecer durante o período reprodutivo, algo inédito em répteis. Os resultados foram publicados na revista Acta Physiologica, da Sociedade Escandinava de Fisiologia.
A primeira autora do estudo, Livia Saccani Hervas, que realizou a pesquisa durante sua iniciação científica na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp), explicou que a capacidade de regular a própria temperatura, conhecida como endotermia, geralmente é atribuída a aves e mamíferos, enquanto répteis e outros animais são considerados ectotérmicos, dependendo da temperatura externa para regular a temperatura corporal.
Em 2016, um outro grupo de cientistas apoiado pela FAPESP descobriu que os teiús mantinham a temperatura corporal mais elevada durante o período reprodutivo, em comparação com as tocas onde se abrigavam durante a noite. No entanto, o mecanismo exato por trás desse fenômeno permanecia desconhecido.
Durante três anos, a equipe de pesquisa coletou biópsias do músculo esquelético de teiús durante diferentes estações do ano, analisando a presença de mitocôndrias e a atividade de proteínas como a ANT, relacionada à produção de calor em aves. Os resultados indicaram que tanto machos quanto fêmeas de teiú aumentavam a produção de mitocôndrias e ativavam a ANT durante o período reprodutivo.
Essa descoberta sugere que mecanismos de regulação de temperatura interna podem ser mais comuns em répteis do que se pensava anteriormente. O estudo abre novas portas para a compreensão da capacidade de termorregulação em animais ectotérmicos e destaca a importância dos hormônios sexuais e da tireoide nesse processo.
O trabalho, liderado pela professora Kênia Cardoso Bícego, da FCAV-Unesp, contou com a participação de outros pesquisadores, como Marcos Túlio de Oliveira, Ane Guadalupe Silva, Lara do Amaral Silva e Marina Rincon Sartori. O artigo completo pode ser acessado em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/apha.14162.
Informações da Agência FAPESP