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Tipuana: árvore comum em São Paulo, resistente a secas e aliada no combate à mudança climática

Uma das três principais espécies de árvores presentes na cidade de São Paulo, a tipuana (Tipuana tipu), mostrou-se tolerante a secas extremas, podendo ser considerada uma alternativa para promover a resiliência urbana contra as mudanças climáticas. A conclusão está em pesquisa publicada na revista Urban Climate.

O estudo avaliou o impacto da seca de 2013/2014 no desenvolvimento de árvores em ruas e parques de São Paulo. A escolha do período se deveu ao fato de essa seca ter sido extrema e registrada no verão, estação normalmente chuvosa e quando as árvores mais crescem.

Com base na análise da largura dos anéis de crescimento e de processos relacionados ao ciclo do carbono, os pesquisadores concluíram que a tipuana apresenta aceleração de fotossíntese em condições de maior temperatura tanto em diferentes micro-hábitats urbanos como durante eventos de seca, refletindo em taxas de crescimento mais altas, apesar das condições climáticas limitantes.

“A composição de espécies resistentes a diferentes situações faz com que a cidade inteira seja resiliente a qualquer evento extremo. No estudo, trazemos um elemento que ajuda a compor essa biodiversidade. Estamos também pesquisando outras espécies nativas”, diz o professor.

As áreas urbanas devem abrigar 68% da população mundial até 2050, com acréscimo de 2,2 bilhões de habitantes em relação ao que existe hoje, segundo relatório da ONU-Habitat. Por outro lado, esses ambientes estão cada vez mais vulneráveis a secas e eventos extremos devido à redução de espaços verdes permeáveis e ao surgimento de ilhas de calor.

Por isso, a discussão de cidades resilientes, com planejamento territorial e capacidade de preparação, resposta e recuperação rápida diante dos desafios climáticos tem ganhado cada vez mais espaço. No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, o governo federal divulgou o decreto que institui o Programa Cidades Verdes Resilientes.

O objetivo é aumentar a resiliência dos municípios brasileiros diante dos impactos causados pela mudança do clima por meio da integração de políticas e estímulo a práticas sustentáveis e de valorização dos serviços ecossistêmicos do verde urbano.

Em um dos trabalhos, usando como modelo a tipuana, eles mostraram que os poluentes atmosféricos restringem o desenvolvimento dessas plantas, interferindo nos serviços ambientais por elas prestados.

Além da tipuana, considerada uma espécie exótica na capital, os outros dois tipos de árvores mais comuns são o alfeneiro (Ligustrum lucidum) – um arbusto com até 3 metros de altura e flores brancas – e a sibipiruna (Caesalpinia pluviosa), que pode chegar a 28 metros de altura, tem copa arredondada e flores amarelas.

Entre as características próprias do ambiente urbano que afetam a saúde das plantas estão desde as estruturas de concreto, com solos impermeabilizados, a poluição do ar, até os diferentes microclimas, com ilhas de calor e impactos do aquecimento global ocasionado pela emissão de gases de efeito estufa. Na média, a cidade de São Paulo está 4°C acima das temperaturas registradas no passado.

A tipuana é uma espécie originária de uma região ao norte da Argentina e da Bolívia, porém, tem sido encontrada em São Paulo há mais de um século. Serve ainda de modelo para outros locais, como países da América do Norte, da Europa, da Ásia, do Oriente Médio e Austrália.

No estudo, os cientistas analisaram os anéis de crescimento de árvores em parques e ruas aplicando uma medida (δ13C, que se pronuncia delta C 13 e representa a medição de isótopos estáveis de carbono) que ajuda a entender os processos relacionados ao ciclo do carbono. Os anéis permitem avaliar a variabilidade passada dos serviços ecossistêmicos por meio de análises de microdensidade de madeira, arquitetura hidráulica e isótopos estáveis de carbono e oxigênio, chegando, assim, a processos fisiológicos e de desenvolvimento das plantas ao longo do tempo.

Os dados foram processados por um algoritmo (chamado árvore de regressão ou regression tree), frequentemente aplicado em pesquisas de silvicultura urbana que, entre outros, fornece resultados facilmente interpretáveis para apoiar a tomada de decisões. Um dos resultados apontou que houve aumento de δ13C durante a seca, levando a um crescimento da tipuana.

“A tipuana é um ativo para São Paulo. Por isso, ter um olhar negativo sobre as espécies exóticas é precipitado. Estamos mostrando que essas espécies podem sim compor a biodiversidade urbana. Ter a tipuana na cidade é uma grande vantagem”, afirma o professor.

O artigo Stress-tolerant trees for resilient cities: Tree-ring analysis reveals species suitable for a future climate pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2212095524001603?via%3Dihub.

Informações da Agência FAPESP

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