Análise mapeia desafios e descobertas de gênero entre jovens das periferias

Por Redação
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O sentimento de insegurança no contexto familiar é um componente muito forte da subjetividade de adolescentes bastante jovens das periferias da cidade de São Paulo. Em uma pesquisa realizada em 2021, na zona leste da capital paulista, com quase mil adolescentes de 10 a 14 anos, foi constatado que 62% dos entrevistados disseram sentir medo ou ficar mal quando os adultos os xingavam, diziam palavras maldosas ou afirmavam não gostar deles. Além disso, 36% afirmaram que em algum momento sentiram que não tinham ninguém para protegê-los e 27% informaram que já haviam tido medo de serem machucados seriamente por pais ou outros adultos. A violência parental, a carência financeira e o consumo de álcool ou drogas pelos genitores foram apontados como fatores de influência.

A pesquisa, coordenada por professores da Faculdade de Saúde Pública (FSP) e da Escola de Enfermagem (EE) da Universidade de São Paulo (USP), faz parte do Global Early Adolescent Study (GEAS), liderado pela Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, dos EUA, com a participação da Organização Mundial de Saúde (OMS). O estudo buscou investigar questões relacionadas ao gênero e à saúde reprodutiva de jovens na faixa etária de 10 a 14 anos em áreas periféricas de diversos países.

No Brasil, a pesquisa foi conduzida por Ana Luiza Vilela Borges (EE-USP), Cristiane da Silva Cabral (FSP-USP) e Ivan França Júnior (FSP-USP). Os resultados indicaram a importância dos aprendizados das normas de gênero nessa fase da vida, influenciando diretamente nas decisões futuras dos adolescentes, principalmente em relação à vida sexual e à saúde reprodutiva. A pesquisa abordou também a questão da não cisgeneridade, identificando um pequeno contingente de adolescentes (2,2%) que não se identificavam com o sexo designado ao nascimento.

O estudo apresentou recomendações para os agentes de saúde pública e educação, visando a criação de espaços para o cuidado integral de adolescentes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), a presença de profissionais de saúde nos espaços escolares e a colaboração entre equipes de saúde e educadores para a promoção da saúde integral dos jovens. Em relação às inseguranças identificadas, sugere-se que os profissionais estejam atentos para identificar situações de violência vivenciadas pelos adolescentes, seja na família ou em outros ambientes.

O estudo, apoiado pela FAPESP, teve seus resultados disponibilizados no seguinte link: www.geastudy.org/all-reports/relatorio-de-pesquisa-estudo-global-sobre-a-saude-de-adolescentes-muito-jovens.

Informações da Agência FAPESP

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