As fabricantes chinesas de veículos elétricos têm encontrado novos mercados fora dos EUA, devido às dificuldades e tarifas impostas pelo país. Agora, o México desponta como um destino atraente para essas empresas automotivas, levantando preocupações em Washington sobre o potencial do México se tornar uma “porta dos fundos” para o mercado americano.
No ano passado, a China se tornou o principal fornecedor de veículos elétricos para o México, exportando US$ 4,6 bilhões em carros, conforme dados do Ministério da Economia mexicano. Mesmo consumidores que inicialmente relutavam em adotar os EVs foram atraídos pelos preços competitivos oferecidos pelas fabricantes chinesas, como a BYD, que disponibiliza seu modelo Dolphin Mini no México por cerca de 398.800 pesos, ou US$ 21.300, aproximadamente metade do preço do modelo mais barato da Tesla.
Juan Carlos Baker, ex-vice-ministro de comércio internacional do México, destacou que as montadoras chinesas chegaram ao México de forma agressiva, oferecendo promoções vantajosas e produtos de qualidade a preços acessíveis. Algumas empresas, como a BYD, estão em pleno processo de expansão na América do Norte, estabelecendo fábricas em estados mexicanos como Durango, Jalisco e Nuevo León.
Esse investimento estrangeiro no México pode impulsionar a economia local, sendo estimado que uma fábrica da BYD no país poderia gerar cerca de 10 mil empregos. No entanto, autoridades nos EUA receiam que essa estratégia das montadoras chinesas visa burlar as restrições comerciais e acessar o mercado americano de forma não regulamentada.
O acesso ao livre comércio foi facilitado pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que eliminou tarifas sobre muitos bens comercializados entre os países da América do Norte a partir de 2018. Sob esse acordo, empresas estrangeiras que produzem no Canadá ou no México e provam a origem local dos materiais usados podem exportar para os EUA com poucos impostos.
Apesar das vantagens proporcionadas pelo USMCA, cumprir seus requisitos é desafiador e gera preocupações entre legisladores e fabricantes americanos. Scott Paul, presidente da Alliance for American Manufacturing, destacou que o México, devido à sua proximidade com os EUA, se tornou uma plataforma de produção atraente para várias empresas, não somente as chinesas.
Michael Dunne, CEO da Dunne Insights, alertou para o impacto que a presença das fabricantes chinesas de veículos elétricos no México poderia ter sobre as montadoras americanas, enfatizando que os custos menores das empresas chinesas representam uma ameaça para a concorrência nos EUA. Em contrapartida, o presidente Joe Biden anunciou uma tarifa de 100% sobre os veículos elétricos chineses em maio.
A pressão dos EUA coloca o México em uma posição delicada, tentando equilibrar seu relacionamento crucial com os EUA sem afugentar o investimento chinês. A CNBC tentou contatar o governo mexicano e as montadoras chinesas BYD, SAIC e Chery para obter comentários, sem sucesso até o momento.
Em resumo, a expansão das fabricantes de veículos elétricos chinesas para o México reforça as preocupações dos EUA em relação a estratégias de evasão comercial e acesso não regulamentado ao mercado americano, ao mesmo tempo em que abre novas oportunidades para o crescimento econômico e a criação de empregos no México. O desenrolar desses acontecimentos certamente impactará o cenário automotivo na América do Norte nos próximos anos.