A antropologia dos dados, um tema que tem mobilizado cada vez mais interesse nos últimos anos, é o assunto destrinchado no dossiê “Big Data: Modos de Fazer, Comparar e Governar”, publicado na revista Mana.
Neste dossiê, congregamos pesquisas que descrevem e analisam relações constituídas sob o efeito do big data. A partir de espaços bastante distintos entre si – jurídico, burocrático, agrícola, biotecnológico, econômico, pornográfico, ambiental –, voltamo-nos às agências conflitivas e criativas implicadas no que os dados fazem ver e no que são capazes de criar por meio de seu potencial de hiper-relacionalidade.
Além de Tiberti, o dossiê também é assinado por Vanessa Parreira Perin, pós-doutoranda na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e bolsista da FAPESP, e Magda Ribeiro, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No documento, as autoras discutem a relação dos volumosos bancos de dados com aparatos diversos, como aplicativos, satélites, microscópios, documentos e algoritmos, capazes de arranjar e distribuir elementos informacionais por meio de práticas comparativas.
Os autores dos artigos examinaram procedimentos de coleta e processamento de big data em diferentes setores e instituições; a pulverização das linguagens algorítmicas e estatísticas; as exigências crescentes por transparência, precisão e celeridade; a vinculação entre o tratamento de dados e as possibilidades de desenvolvimento democrático e sustentável. É dada especial atenção às transformações éticas e epistemológicas que envolvem big data, bem como aos efeitos da mobilização de conhecimentos computacionais por especialistas, incluídos aí os próprios antropólogos, em diferentes ambientes de produção de conhecimento.
Os artigos foram assinados por Tone Walford, da University College London (Reino Unido), Carolina Parreiras, da Universidade de São Paulo (USP), Evandro Soares e Pedro Ferreira, ambos da Unicamp, Manuel Ramon Souza Luz, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), além das próprias organizadoras do dossiê.
No seu artigo, Munhoz discute as vinculações entre os dados digitais – colecionados, armazenados e postos em circulação em larga escala – e o funcionamento do sistema de justiça nacional. O texto está vinculado ao seu projeto de pós-doutorado, que tem apoio da FAPESP. “Na pesquisa em curso, aprofundo e estendo esses meus interesses, examinando como é mobilizado o conceito de ‘acesso’ em um sistema de justiça cujos apelos ‘democráticos’ passam, cada vez mais, pela adesão a ferramentas digitais disponibilizadas de maneira incontornável a cidadãos-usuários”, pontua.
Já o projeto de Perin aborda a mobilização dos dados em novas tecnologias na área agrícola, particularmente na agricultura de precisão, e seus efeitos no campo. “Os debates apresentados no dossiê também se cruzam com análises sobre como novos ativos financeiros são construídos a partir das informações agregadas por meio de uma nova escala de coleta de dados agrícola”, diz a pesquisadora da UFSCar.
A revista Mana reúne trabalhos diversos, que exploram o big data a partir de entradas etnográficas variadas, levando o tema para pesquisadores de diversos campos de estudo e para o público em geral.
O artigo Big Data: Modos de fazer, comparar e governar pode ser lido em: www.scielo.br/j/mana/a/GHmLVYJ5mNQhskCRJqrCjZc/?lang=pt.
Informações da Agência FAPESP