A influência da globalização na evolução das línguas: mudanças rápidas em um mundo conectado e contagioso

Por Redação
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Caetano Galindo é um nome referencial nas áreas de linguística, criação literária e tradução. Seu livro “Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português” (Companhia das Letras, 2023) transforma o tema árido da origem e evolução complexa do nosso idioma em uma leitura fascinante. Sua tradução da principal obra de James Joyce, “Ulysses” (Companhia das Letras, 2012), foi premiada com o Jabuti, pela Academia Brasileira de Letras (ABL), e pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Nascido em Curitiba em 1973, Galindo é professor na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Sua produção ensaística inclui o guia “Sim, eu digo sim: uma visita guiada ao Ulysses de James Joyce” (Companhia das Letras, 2016). Na área ficcional, destacam-se “Sobre os canibais” (Companhia das Letras, 2019), “Lia: cem vistas do monte Fuji” (Companhia das Letras, 2024) e a peça de teatro “Ana Lívia”.

No terreno da tradução, ele recriou em português autores como J. D. Salinger, Thomas Pynchon, David Foster Wallace, Alice Munro, entre outros, além do “O diário do Beagle” de Charles Darwin.

Galindo será o convidado do nono evento da série Conferências FAPESP 2024. Agendada para sexta-feira (25/10), às 10 horas, no Auditório da FAPESP, a conferência tem por título “Latim em Pó: o que nossa língua pode nos ensinar sobre democracia, poder, diferença e convívio”, o qual por si só é instigante.

Na entrevista à Agência FAPESP, ele discute as transformações atuais do idioma, os vieses de gênero e raça na língua portuguesa, os desafios da tradução, entre outros temas pertinentes.

Em relação à mudança linguística, Galindo enfatiza a inovação como um fato pontual que depende da difusão em redes de contato. Com a interconexão em alta velocidade e a preponderância do inglês, mecanismos novos estão influenciando a situação linguística global.

A perda de diversidade linguística é um fato indiscutível, com a extinção de idiomas pelo mundo. Essa perda acarreta não apenas na redução da diversidade, mas também na violência e exclusão de culturas e populações.

No campo da leitura, Galindo destaca o aumento do acesso à literatura, porém observa uma popularização de obras de entretenimento em detrimento da literatura tradicional, que tornou-se uma espécie de arte de nicho.

Sobre os vieses na língua portuguesa, ele ressalta a importância de discutir questões de gênero, raça e exclusão na linguagem. Enquanto algumas revisões são necessárias, o autor alerta para equívocos e exageros na polícia do uso linguístico.

Em relação à inclusão de idiomas como o nheengatu e yorubá no currículo, Galindo considera fundamental proporcionar às novas gerações uma visão mais inclusiva da formação cultural brasileira, ampliando o conhecimento sobre idiomas e culturas locais.

Na tradução de obras intraduzíveis como o Ulysses, o autor destaca a complexidade e violência necessárias para adaptar as obras em diferentes línguas. A questão da intraduzibilidade é desafiadora, porém, a tradução continua a existir, permitindo novas interpretações e possibilidades de leitura.

Quanto à tradução do Finnegans Wake, Galindo relata a dificuldade em encontrar equivalências que permitam compreender plenamente a obra, destacando a incerteza em relação à eficácia das traduções existentes frente à complexidade do texto original.

Informações da Agência FAPESP

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