A queima de combustível é um dos principais causadores de emissão de dióxido de carbono na aviação, mas não é a única. O rastro deixado pelos aviões quando cruzam os céus também tem uma consequência grave ao meio ambiente: as nuvens contribuem para retenção de calor na Terra e podem aumentar a temperatura do planeta.
Embora mais estudos sejam necessários para determinar com precisão o impacto do rastro, algumas medidas podem ser adotadas para melhorar as previsões e a compreensão sobre o assunto.
As linhas brancas deixadas pelo avião quando rasga os céus são chamadas de rastros de condensação. Elas se formam quando as aeronaves voam através de bolsões de ar frios e úmidos. Quando queimam combustível nesse processo, os aviões emitem dióxido de carbono, fuligem e vapor de água, que aderem às partículas de fuligem e formam cristais de gelo. De longe, as formações lineares são os “rastros” que conhecemos.
Se o número de cristais for grande, eles formam nuvens chamadas cirrus, que podem persistir por segundos ou minutos em alguns casos. Já em outros, por horas ou até dias. O problema é que, se por um lado essas nuvens filtram a luz solar, por outro não deixam a radiação da Terra voltar ao espaço, causando retenção do calor na nossa atmosfera e aumentando a temperatura por aqui.
Segundo Jayant Mukhopadhaya, pesquisador líder de aviação do Conselho Internacional para o Transporte Limpo (ICCT), ao Uol, é como “colocar um cobertor em volta da Terra, que retém calor e aquece o planeta”.
Como lembrou o site, atualmente a aviação é responsável por 2% a 3,5% das emissões anuais de dióxido de carbono globalmente.
No entanto, apesar da queima de combustível ser considerado um dos principais responsáveis por isso, os rastros também têm impacto significativo. Mukhopadhaya revelou que está mais preocupado com as nuvens do que com as emissões no geral, porque elas não estão sendo consideradas pela indústria. Se elas entrarem na conta, o impacto global da aviação pode ser maior ainda.
Ainda segundo o site, um estudo de 2021 apontou que emissões não relacionadas ao dióxido de carbono representam até dois terços do impacto climático da aviação, com os rastros dos aviões representando 57% do total (quase o mesmo que as emissões pela queima de combustível).
Há um porém. O impacto exato dos rastros ainda não é conhecido, devido à falta de estudos e dados sobre o assunto. De acordo com o pesquisador, tampouco faz sentido analisá-los a longo prazo, como 100 anos, porque eles se dissipam rapidamente.
Especialistas acreditam que, como os rastros de condensação têm vida curta, podem ter seus efeitos anulados com esforços para minimizar sua formação. Uma alternativa seria o uso de combustíveis mais limpos, como o hidrogênio, que poderiam reduzir a duração das linhas.
Além disso, nem todos os voos criam os rastros, a depender das condições meteorológicas e da trajetória. Seria possível redirecionar rotas pensando em minimizar a formação. Essa, porém, é uma tarefa trabalhosa.
Um caminho mais fácil seria melhorar o trabalho de satélites, responsáveis por fornecer previsões sobre esse fenômeno. Nesse caso, o empecilho está no preço alto da tarefa.
Ou, ainda, voar em altitudes mais baixas, já que o congelamento da água acontece em altitudes altas. No entanto, isso exige mais combustível, o que, além de encarecer a aviação, também gera emissões.
Em suma, a aviação enfrenta desafios significativos no que diz respeito aos rastros deixados pelos aviões. A conscientização sobre o impacto ambiental dessas formações é essencial para o desenvolvimento de medidas que possam mitigar as emissões prejudiciais ao planeta. Cabe às empresas do setor e aos pesquisadores trabalharem em conjunto para encontrar soluções sustentáveis que garantam um futuro mais limpo para o transporte aéreo.