Cientistas climáticos em alerta para possível colapso das correntes oceânicas do Atlântico
Cientistas climáticos ao redor do mundo estão em estado de alerta devido a um potencial colapso das grandes correntes do Oceano Atlântico. Essas correntes fazem parte do sistema conhecido como Circulação Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês), que inclui a Corrente do Golfo e é responsável por transportar calor crucial para o Hemisfério Norte.
Estudos indicam que a AMOC está desacelerando e, devido ao aquecimento global, poderá atingir em breve um ponto de ruptura, o que teria impactos drásticos no clima da Terra.
Entre os signatários de uma carta de alerta está Stefan Rahmstorf, diretor do departamento de análise do sistema terrestre no Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha. Em entrevista ao site Live Science, o oceanógrafo explicou a dinâmica da AMOC e seus potenciais efeitos globais.
Pontos críticos da AMOC ao alcance
De acordo com Rahmstorf, ao transportar calor para o norte, esse complexo sistema de correntes oceânicas mantém as temperaturas mais amenas na Europa e influencia eventos climáticos importantes. No entanto, registros paleoclimáticos revelam que, quando a AMOC entra em colapso, ocorrem variações bruscas de temperatura, como o resfriamento de até 20°C próximo à costa da Noruega, resultado da interrupção desse transporte de calor.
Rahmstorf alerta que, mesmo que o último relatório do IPCC tenha apontado uma baixa probabilidade de colapso da AMOC neste século, estudos recentes sugerem o contrário. A AMOC apresenta sinais de instabilidade em fase inicial, com flutuações naturais mais intensas, indicando que o ponto de inflexão pode estar próximo. Esses indícios preocupam os cientistas, que acreditam que a modelagem climática atual subestima a vulnerabilidade da AMOC.
Um possível colapso completo da AMOC acarretaria consequências graves: uma “bolha fria” no Atlântico Norte se expandiria, gerando um resfriamento em partes da Europa do Norte e provocando impactos climáticos como secas e extremos de temperatura entre o norte e o sul do continente. “A interrupção da circulação também afetaria o transporte de oxigênio e CO₂ para as camadas mais profundas do oceano, diminuindo a absorção de carbono pelos oceanos e intensificando o efeito estufa”, ressaltou o especialista.
Instabilidade há décadas sendo observada no Oceano Atlântico
Rahmstorf menciona que a possibilidade de colapso da AMOC tem sido considerada por décadas, desde que o oceanógrafo Henry Stommel, em 1961, identificou a instabilidade do sistema. Entretanto, somente agora, com novas evidências e dados, os cientistas estão cada vez mais convencidos de que a probabilidade de colapso é significativa, justificando o alerta na carta aberta para intensificar as pesquisas sobre os potenciais impactos e estratégias de mitigação.
“Globalmente, um colapso da AMOC poderia causar secas em regiões tropicais e afetar áreas agrícolas essenciais”, alertou Rahmstorf. Esse cenário poderia colocar em risco a produção de alimentos, especialmente trigo e milho, que são a base de calorias para grande parte da população mundial.
Embora um colapso seja reversível, a recuperação levaria séculos, resultando em um impacto duradouro para as futuras gerações. Rahmstorf destaca que os efeitos de uma recuperação abrupta seriam ainda mais severos, podendo provocar um rápido aumento de temperatura e agravar a situação climática na região.
Portanto, é fundamental que a comunidade científica e os líderes mundiais se empenhem em compreender e abordar essa grave ameaça para garantir a estabilidade do clima e do planeta como um todo.