Pesquisa brasileira resulta em pele artificial 3D com maior semelhança à pele humana

Por Redação

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um modelo de pele artificial por impressão tridimensional (3D) com características mais semelhantes às do ser humano. Nomeada Human Skin Equivalent with Hypodermis (HSEH), a estrutura poderá ser empregada em estudos para o tratamento de doenças e lesões, como feridas e queimaduras, bem como no desenvolvimento de medicamentos e cosméticos, sem a necessidade de testes em animais.

O processo de produção do material, feito a partir de células-tronco e primárias, foi descrito na revista Communications Biology por cientistas do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), integrante do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). O trabalho foi apresentado durante a FAPESP Week Spain, em Madri.

O evento, que terminou ontem (28/11) na Faculdade de Medicina da Universidade Complutense de Madri (UCM), tem o objetivo de fortalecer os vínculos entre pesquisadores do Estado de São Paulo e do país europeu para promover parcerias de pesquisas.

“Conseguimos desenvolver um modelo de pele completa, com três camadas: a epiderme, a derme e a hipodermis. Dessa forma, foi possível obter um modelo do órgão com características muito similares às do ser humano”, disse Ana Carolina Migliorini Figueira, pesquisadora do LNBio-CNPEM e coordenadora do projeto.

De acordo com Figueira, os modelos de pele 3D têm sido explorados como um método alternativo ao uso de animais em testes de absorção de cosméticos, por exemplo. Mas as opções desenvolvidas até agora têm como limitação o fato de que negligenciam a hipodermis – a camada mais profunda da pele e que exerce um papel fundamental na regulação de processos biológicos importantes, como a hidratação e a diferenciação celular.

Essa camada, formada por células adiposas, exerce um papel ativo na pele, influenciando processos como regulação da água, desenvolvimento celular e imunidade, o que a torna fundamental para criar modelos de pele completos e funcionais.

Os pesquisadores empregaram técnicas de engenharia de tecidos para aprimorar a tecnologia e conseguir construir um equivalente de pele humana de espessura total e com a hipodermis, de modo a criar um ambiente mais próximo do tecido humano real, permitindo a adesão, proliferação e diferenciação celular mais eficientes.

“Esse novo modelo de pele 3D com a camada de hipodermis fornece uma plataforma in vitro mais precisa para a modelagem de doenças e estudos toxicológicos”, avaliou Figueira.

“Os resultados dos ensaios que realizamos mostram que a hipodermis é indispensável para modular a expressão de uma ampla gama de genes vitais para a funcionalidade da pele, como os relacionados à proteção e à regeneração do tecido”, disse.

Os pesquisadores empregaram bioimpressão 3D para construir um modelo de pele baseado em colágeno, que serve de matriz para a interação das células.

O LNBio produzirá a pele para estudos próprios, mas poderá confeccionar o material para instituições de pesquisa parceiras. A ideia é auxiliar no desenvolvimento de enxertos para tratamento de ferimentos e queimaduras.

Por meio de um projeto financiado pela FAPESP, no âmbito de um acordo com a Netherlands Organisation for Scientific Research (NWO), os pesquisadores brasileiros pretendem desenvolver a partir dessa pele 3D mais realista um modelo de pele diabética com feridas crônicas e, consequentemente, um curativo para essa finalidade.

A ideia é que os pesquisadores do LNBio consigam vascularizar o modelo de pele humana in vitro em três camadas para criar uma versão que mimetize as características de pele de pessoas com diabetes, que podem ter ferimentos de difícil cicatrização, com risco de amputação de membros.

Em contrapartida, um grupo de pesquisadores neerlandeses, vinculados à Radboud University Medical Center, está trabalhando no desenvolvimento de novos biomateriais no intuito de criar um curativo para tratar feridas diabéticas.

“Nosso objetivo é, depois de produzido o novo curativo, testá-lo tanto em modelo animal como no de pele diabética humana que desenvolveremos”, explicou Figueira.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) pretende empregar ferramentas da biologia sintética para construir biossensores baseados em circuitos genéticos, como DNA, RNA e proteínas, para o monitoramento de contaminação de amostras ambientais, como água, por metais.

Combinando conhecimentos biológicos e de engenharia, os pesquisadores pretendem inserir novas funções em organismos naturais, por meio do desenvolvimento de novas sequências genéticas.

“A Espanha tem vários pontos fortes. Um deles é que há cerca de 4,5 mil empresas realizando atividades nessa área”, disse Maria Isabel de la Riesco, professora da UCM.

As empresas de biotecnologia empregam mais pesquisadores na Espanha do que outros setores industriais e os salários nessa área são superiores à média nacional, sublinhou a pesquisadora.

“A Espanha tem participação de 2,46% na publicação mundial de artigos relacionados à biotecnologia e a citação deles é 21% maior do que a média global. Aproximadamente 60% da produção científica em biotecnologia no país é feita em colaboração internacional”, afirmou Riesco. Saiba mais sobre a FAPESP Week Spain em: www.fapesp.br/week/2024/spain.

Informações da Agência FAPESP

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