Como Dados Clínicos e Genéticos Podem Prever a Resposta ao Tratamento da Psicose

Por Redação
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Disponível gratuitamente na rede pública de saúde, a risperidona é frequentemente a primeira opção de tratamento para quadros de psicose. No entanto, uma parcela significativa dos pacientes não responde adequadamente à terapia, e essa resistência pode estar ligada a fatores clínicos, ambientais e ao perfil genético do paciente.

Um estudo recente, apoiado pela FAPESP e publicado no Brazilian Journal of Psychiatry, investigou a resposta ao tratamento com risperidona em pacientes com esquizofrenia. Realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaboradores, o estudo avaliou a eficácia de modelos preditivos para identificar quais indivíduos poderiam se beneficiar do medicamento.

Metodologia do Estudo

O ensaio clínico incluiu 141 pacientes que vivenciaram o primeiro episódio de psicose e que nunca haviam utilizado antipsicóticos. Os participantes foram avaliados antes e após dez semanas de tratamento com risperidona. Os resultados revelaram que 51% dos pacientes, ou seja, 72 indivíduos responderam positivamente ao tratamento, enquanto 69 apresentaram sintomas persistentes.

Os pesquisadores empregaram algoritmos de aprendizado de máquina para prever a resposta ao tratamento, utilizando três categorias de dados: clínicos, genéticos e uma combinação de ambos (modelos híbridos). Surpreendentemente, os modelos híbridos mostraram desempenho superior, acertando 72,9% das previsões, enquanto os modelos baseados apenas em dados clínicos atingiram 63,3%.

Implicações da Pesquisa na Psiquiatria de Precisão

A geneticista e professora da Unifesp, Sintia Belangero, uma das autoras do estudo, ressalta a importância dessas descobertas para a psiquiatria de precisão. "Devido à etiologia complexa da psicose, que envolve fatores genéticos e ambientais, é vital considerar ambos para otimizar a predição de desfechos clínicos e a resposta ao tratamento", afirma.

Entre os fatores clínicos, a Duração da Psicose Não Tratada (DUP) se destacou como o mais relevante na predição da resposta terapêutica. Pesquisas anteriores já indicaram que uma DUP prolongada está associada a piores resultados após o tratamento, enfatizando a necessidade de intervenções precoces.

Além disso, o uso de cannabis foi identificado como um fator ambiental significativo. Estudos anteriores indicam que o uso de cannabis correlaciona-se com um maior número de internações hospitalares e com a maior dificuldade na adesão ao tratamento farmacológico.

Desafios e Futuro da Pesquisa

Os pesquisadores enfrentaram desafios ao tentarem acessar pacientes em um momento crítico, logo após o primeiro episódio psicótico. Belangero acredita que os resultados do estudo podem fundamentar o desenvolvimento de novos tratamentos mais eficazes e seguros. Entre os aspectos a serem considerados pelos médicos estão a escolha do antipsicótico, sua segurança e eficácia, e como essas drogas serão metabolizadas pelo paciente.

"A psiquiatria de precisão pode nos ajudar a identificar os tratamentos mais benéficos para cada paciente desde a primeira consulta. No entanto, ainda estamos em fase de transição para esse modelo de abordagem personalizada", explica a pesquisadora.

A equipe de pesquisa, composta por Giovany Oliveira, Vanessa Ota, Ary Gadelha, Cristiano Noto e Diego Mazzotti, planeja validar esses modelos em amostras maiores, incluindo populações de diferentes ancestralidades genéticas. "Nosso objetivo é testar esses preditores em grupos mais amplos para verificar a robustez e aplicabilidade dos resultados", conclui Belangero.

Para mais informações, acesse o artigo completo: A hybrid model for predicting response to risperidone after first episode of psychosis.

Informações da Agência FAPESP

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