Novo Soro Antiveneno de Jararaca é Três Vezes Mais Eficiente que o Padrão em Estudo Pré-Clínico

Por Redação
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Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto Butantan desenvolveu uma versão três vezes mais eficiente do soro antibotrópico, utilizado no tratamento de envenenamentos por serpentes do gênero Bothrops, sendo a jararaca (B. jararaca) a espécie mais comum. Este avanço promete melhorias significativas na eficácia do tratamento de picadas de cobra.

Avanços no Soro Antibotrópico

O estudo, apoiado pela FAPESP, foi publicado no Journal of Proteome Research. Os cientistas combinaram métodos tradicionais com técnicas modernas para quantificar e aumentar as proteínas responsáveis pela neutralização do veneno, além de reduzir substâncias que podem causar efeitos colaterais. "Assim, alcançamos um soro com ação aumentada mesmo em menor quantidade", afirma Alexandre Tashima, professor da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) e coordenador da pesquisa.

Como Funciona o Soro Antiofídico

Os soros antiofídicos, que previnem envenenamentos por serpentes, são produzidos há mais de um século. Para isso, uma dose subletal de veneno é injetada em animais de grande porte, como cavalos, que, em resposta, produzem anticorpos contra as toxinas. Após alguns dias, o sangue, agora enriquecido com esses anticorpos, é coletado, processado e purificado, resultando no soro heterólogo, o único tratamento cientificamente comprovado para envenenamentos por serpentes.

Entretanto, apenas entre 10% e 40% da composição dos soros antiofídicos corresponde a proteínas que neutralizam as toxinas das serpentes. Por isso, o primeiro passo do grupo de Tashima foi quantificar essas proteínas no soro antibotrópico padrão. Utilizando técnicas como cromatografia por afinidade, ressonância plasmônica de superfície e espectrometria de massas, os pesquisadores descobriram que apenas 27,8% dos componentes do soro interagem com as toxinas do veneno da jararaca.

Melhoria da Composição do Soro

Após identificar a fração útil do soro, os pesquisadores passaram para uma fase de purificação avançada. Por meio da cromatografia por afinidade, focaram em manter os anticorpos que se ligavam ao veneno. O soro melhorado apresentou 87% menos albumina (uma proteína que pode causar reações adversas) e reduções entre 37% e 83% em outras proteínas. Além disso, testes funcionais mostraram que a nova versão do soro tinha uma afinidade 2,9 vezes maior por toxinas do veneno e proezas em testes com camundongos, que precisaram de uma dose 2,8 vezes menor do novo soro para neutralizar as toxinas.

Importância e Futuro do Tratamento

A melhoria na potência do soro, aliada à menor quantidade de proteínas de cavalo, pode reduzir a incidência de efeitos adversos, que ocorrem entre 5% e 57% dos casos, principalmente devido à resposta imune a proteínas não específicas.

Embora as tecnologias de purificação utilizadas já sejam comuns na fabricação de outros biofármacos, o próximo passo envolve as pesquisas clínicas e regulamentares para transformar esses resultados em um novo produto acessível. Além disso, está sendo explorado o desenvolvimento de novas técnicas, como a produção de anticorpos monoclonais, que poderiam oferecer alternativas mais específicas para o tratamento de envenenamentos por serpentes.

Conclusão

As estimativas globais indicam que o número de envenenamentos por picadas de serpentes ultrapassa 5 milhões por ano, resultando em mais de 100 mil mortes e 400 mil incapacitações. A OMS, em 2017, destacou o envenenamento por serpentes como uma moléstia tropical negligenciada, incentivando um maior investimento em pesquisa e desenvolvimento de tratamentos.

O artigo completo sobre as inovações no soro antibotrópico pode ser encontrado em: Enhancing the Bothropic Antivenom through a Reverse Antivenomics Approach.

Informações da Agência FAPESP

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