Um estudo publicado no Journal of Applied Ecology revela que a bacia do Alto Paraguai, que inclui o Pantanal e seu entorno, pode perder quase todas as áreas adequadas para a vida de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) até o fim do século. A pesquisa, que combina um banco de dados sobre a localização das espécies da região com projeções climáticas para 2100, aponta que mais de 80% das espécies desse grupo podem ser afetadas.
Realizada por pesquisadores do Brasil e da Suíça, a pesquisa teve como primeiro autor Matheus Oliveira Neves, durante seu doutorado na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Os resultados mostraram que as unidades de conservação integral, que representam apenas 5,85% do território, protegem menos de 5% da distribuição geográfica dos anfíbios.
De acordo com a pesquisa, em 2022, a Convenção da Biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou que 30% da superfície terrestre fosse coberta por áreas protegidas até 2030. Atualmente, apenas 17% do território é protegido, incluindo unidades de conservação e terras indígenas.
Diante da grave situação, os autores propõem a criação de novas unidades de conservação na bacia do Alto Paraguai, em locais que serão mais adequados no futuro para os anfíbios, que dependem da umidade. Mario Ribeiro Moura, coordenador do estudo, destaca a urgência de expandir as áreas protegidas, considerando um cenário de aquecimento global.
O estudo avaliou dois cenários de mudanças climáticas com base nas projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O cenário otimista prevê um aumento de 2 °C na temperatura média global até 2100, enquanto o pessimista prevê um aumento de 4 °C. Foram analisados mais de 4 mil registros de ocorrência das 74 espécies de anfíbios conhecidas da bacia do Alto Paraguai, que se estende além do Pantanal, incluindo partes do Paraguai e da Bolívia.
Futuros Possíveis para Anfíbios
As áreas que poderão ser adequadas para a habitação de anfíbios no futuro estão localizadas principalmente no norte da bacia do Alto Paraguai, na transição com o Cerrado, nas proximidades de Cuiabá (MT), e no sudeste, perto de Campo Grande (MS), além da região sudoeste, próxima ao Chaco paraguaio. Entre as áreas protegidas atualmente, nenhuma demonstrou uma riqueza de anfíbios superior à esperada para o clima atual. Seis dessas áreas (8,2%) apresentam uma diversidade significativamente menor do que o esperado.
Os dados indicam que, no cenário otimista, cinco áreas (6,8%) podem apresentar um ganho de espécies maior do que o previsto, enquanto em três áreas (4,1%) isso ocorre no cenário pessimista. No entanto, a perda de espécies pode ser maior do que o esperado em duas e três áreas (2,7% e 4,1%), respectivamente, nos cenários otimista e pessimista.
Em suma, apenas 13,7% das áreas protegidas na bacia do Alto Paraguai têm potencial para abrigar mais ou perder menos espécies em pelo menos um cenário futuro. A maioria dessas áreas são terras indígenas. Os pesquisadores recomendam a criação de novas unidades de conservação e a ampliação das existentes, além de enfatizar a importância de mitigar os impactos de práticas agropecuárias inadequadas e promover a restauração de ecossistemas aquáticos.
O artigo, intitulado "Climate change threatens amphibians and species representation within protected areas in tropical wetlands", pode ser acessado neste link.
Informações da Agência FAPESP