Intervenções Públicas e Alagamentos em Heliópolis: Desafios e Soluções
As intervenções do poder público para mitigar os problemas causados pelo excesso de chuva em Heliópolis, a maior favela da cidade de São Paulo, têm se mostrado insuficientes. Muitas áreas da comunidade que enfrentam alagamentos não foram atendidas e não foram implementadas medidas menores que poderiam minimizar os impactos das chuvas fortes. A falta de um projeto estruturado para ocupação da beira do córrego Independência resultou na reocupação de suas margens com moradias insalubres, aumentando assim a vulnerabilidade a alagamentos.
Essas constatações são frutos de uma pesquisa realizada entre 2023 e 2024 por cientistas do Laboratório de Estudos e Projetos Urbanos e Regionais da Universidade Federal do ABC (Lepur-UFABC) e do Centro de Estudos da Favela (CEFAVELA), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP. O estudo, parte do projeto “Favelas Urbanizadas em São Paulo: ambiente construído e apropriação no pós-obra”, foi coordenado por Rosana Denaldi e Luciana Nicolau Ferrara.
Apresentação à Comunidade
Os resultados foram discutidos em uma oficina realizada na sede da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (Unas), onde pesquisadores do CEFAVELA e do Lepur compartilharam os dados com moradores locais. Estiveram presentes representantes de diversas organizações da comunidade, além de jovens do projeto "De Olho na Quebrada". Ferrara destacou a importância de coletar dados sobre a qualidade ambiental, as obras de drenagem e como essas intervenções impactam as moradias e infraestrutura da comunidade.
De acordo com o Censo Demográfico de 2022, Heliópolis abriga 20.205 domicílios e 55.583 habitantes, dos quais aproximadamente 31.183 estão registrados no Cadastro Único (CadÚnico).
Mapeamento Colaborativo e Problemas de Alagamento
Os pesquisadores complementaram a análise dos alagamentos com um mapeamento colaborativo feito pelo Observatório De Olho na Quebrada. Os moradores identificaram problemas que não são abordados em fontes oficiais, como o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas e o Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo. Esses dados foram discutidos em janeiro de 2024.
Principais Resultados
A avaliação do mapeamento revelou que áreas já urbanizadas, como os núcleos Mina e Lagoa, ainda enfrentam problemas de alagamento devido a intervenções incompletas do Programa de Aceleração do Crescimento – Urbanização de Assentamentos Precários (PAC-UAP). A exclusão de certos territórios deixou algumas vielas em condições precárias, aumentando a vulnerabilidade ao alagamento durante as chuvas.
Os pesquisadores constataram que a falta de manutenção adequada nas infraestruturas existentes contribui para esse problema. Moradores relataram organizar limpeza das caixas de drenagem autoconstruídas, evidenciando desigualdades sociais. “Esta estruturação do espaço em Heliópolis demanda novas intervenções para mitigar os alagamentos e melhorar a infraestrutura”, afirmam os pesquisadores.
Desafios Relacionados ao Lixo
Outro aspecto crítico discutido foi a gestão de resíduos sólidos. Apesar da coleta regular, a má disposição do lixo durante horários inadequados tem contribuído para entupir o sistema de drenagem, agravando os alagamentos. A pesquisa recomenda aprimorar a conscientização comunitária e a instalação de lixeiras apropriadas.
Análise das Intervenções do PAC-UAP
O estudo também avaliou as intervenções do PAC-UAP no córrego Independência, onde remoções de moradias foram necessárias para realizar obras de macrodrenagem. Entretanto, a falta de planejamento para o uso dos espaços liberados gerou novas ocupações informais, resultando em inundações recorrentes, o que contradiz a intenção inicial de qualificação ambiental.
Conclusão e Caminhos a Seguir
A oficina realizada visou não apenas a apresentação dos dados, mas também o fortalecimento do conhecimento da comunidade sobre questões ambientais. Os pesquisadores oferecem suporte para que os moradores possam discutir e buscar soluções para seus problemas a partir de dados técnico-científicos.
A cartilha Águas na Quebrada pode ser acessada através do link. Essa publicação representa um passo importante na busca por melhoria da qualidade de vida em Heliópolis.
Informações da Agência FAPESP