Descubra 700 Variações Genéticas Ligadas à Depressão em Estudo Global

5 Min

Cientistas de diversos países identificaram fatores genéticos de risco para a depressão em diferentes etnias, permitindo prever o risco da doença independentemente da origem genética. Este estudo, o maior e mais variado já realizado sobre a genética da depressão, foi publicado na revista Cell.

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 5 milhões de pessoas em 29 países, incluindo a Brazilian High-Risk Cohort (BHRC), um estudo com a participação do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM), um projeto especial da FAPESP sediado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

As análises revelaram 697 variações genéticas relacionadas à depressão, sendo quase 300 delas inéditas. Um terço dessas novas descobertas foi alcançado com a inclusão de indivíduos de ancestralidade genética miscigenada, comum na população brasileira. Essa abordagem representa um avanço significativo na equidade científica, já que a maioria dos estudos anteriores incluía predominantemente participantes com ancestralidade europeia.

O psiquiatra Pedro Mario Pan, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da investigação no Brasil, destaca que este estudo é um marco na psiquiatria genética, evidenciando a importância de incluir diferentes populações para garantir a eficácia dos tratamentos.

As variações genéticas identificadas estão ligadas a neurônios em regiões cerebrais que controlam as emoções, oferecendo novas pistas sobre como a depressão afeta o cérebro e possibilitando o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes. A professora Sintia Belangero, também integrante do CISM, explica que essas informações podem direcionar terapias e adaptar medicamentos existentes para o tratamento da depressão.

Alguns medicamentos que podem ser reutilizados já são utilizados para tratar dor crônica e distúrbios do sono. No entanto, os pesquisadores ressaltam que mais estudos e testes clínicos são necessários para confirmar a eficácia desses medicamentos na depressão.

O estudo incluiu a participação de outros membros do CISM, como os professores Giovanni Salum, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Marcos Santoro, da Unifesp. Os pesquisadores apontam que a maior parte das pesquisas genéticas anteriores focava em populações de ascendência europeia, limitando a aplicação dos resultados em outras etnias e perpetuando desigualdades nos tratamentos.

Agora, com 25% dos participantes de ascendência não europeia, este novo estudo representa um passo importante para tornar os avanços científicos mais inclusivos. Vanessa Ota, pesquisadora da Unifesp, afirma que os resultados ajudam a reduzir lacunas históricas no conhecimento sobre a depressão e podem beneficiar milhões de pessoas em populações que antes eram sub-representadas.

Os resultados ressaltam a necessidade de mais pesquisas globais e colaborativas. Os cientistas esperam que os dados sirvam de base para novos tratamentos, além de melhorar a prevenção da depressão em indivíduos com maior risco genético. A aluna de doutorado Adrielle Martins, do Laboratório Interdisciplinar de Neurociências Clínicas (Linc) da Unifesp, destacou que, embora agora se tenha uma visão mais clara da base genética da depressão, ainda há um longo caminho a percorrer para transformar essas descobertas em cuidados melhores e mais acessíveis.

A BHRC, há mais de 15 anos, acompanha 2,5 mil crianças e adolescentes oriundos de escolas públicas nas cidades de São Paulo e Porto Alegre, junto com seus pais e filhos que nasceram após o início da pesquisa. O objetivo é investigar fatores psicológicos, biológicos e sociais associados à origem de transtornos mentais e variações no desenvolvimento cognitivo, dentro do projeto "Conexão Mentes do Futuro".

O estudo desenvolveu um extenso banco de dados com centenas de milhares de variáveis, permitindo análises detalhadas e novas perguntas em saúde mental, incluindo aspectos relacionados à genética e à estrutura cerebral. O artigo Trans-ancestry genome-wide study of depression identifies 697 associations implicating cell types and pharmacotherapies está disponível em: Cell.

Com informações do CISM.

Informações da Agência FAPESP

Compartilhe Isso