A aquicultura na Amazônia se destaca como uma alternativa sustentável à pecuária, emitindo dez vezes menos gases de efeito estufa e utilizando entre 20 a 100 vezes menos terra por tonelada de proteína animal produzida. Essa prática pode ser uma solução viável para a segurança alimentar na região, conforme evidenciado em um recente estudo publicado na revista Nature Sustainability por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos, incluindo apoio da FAPESP.
Expansão Sustentável da Aquicultura
Desde os anos 1980, a aquicultura na Amazônia começou a receber incentivos e se expandiu significativamente. Essa atividade é vista como uma alternativa mais sustentável à criação de gado, que tem gerado cerca de 80% do desmatamento na região nos últimos 30 anos. No entanto, é crucial que a aquicultura seja estudada mais profundamente para compreender seus impactos e, assim, conquistar mercados internacionais.
Os pesquisadores analisaram dados de cinco países da Amazônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru), sendo o Brasil o maior produtor de peixes, com destaque para o estado de Rondônia, que lidera a produção de espécies nativas, como o tambaqui. Graças à sua rusticidade e altas taxas de crescimento, o tambaqui possui um mercado consolidado na região Norte e tem potencial para expansão em outras áreas do Brasil, além de mercados internacionais.
Sustentabilidade e Monitoramento
Embora a aquicultura tenha potencial crescimento na Amazônia, é essencial considerar fatores como o licenciamento ambiental, que pode variar por estado, e a necessidade de um monitoramento constante para garantir a sustentabilidade da produção. Atividades inadequadas, como o uso excessivo de ração ou o barramento de igarapés, podem prejudicar a biodiversidade local e aumentar a emissão de gases de efeito estufa.
Os pesquisadores sugerem que a aquicultura poderia ser estabelecida em pastagens degradadas, que, se revertidas para a criação de peixes, poderiam resultar em menores emissões de gases de efeito estufa em comparação ao abandono dessas áreas. Além disso, a produção de peixe é mais eficiente em termos de uso da terra do que a produção de carne bovina.
Desafios das Espécies Exóticas
Em um cenário global, a Amazônia é reconhecida pela produção de espécies nativas, como o tambaqui e o pirarucu. No entanto, há pressão para a liberação do cultivo de espécies exóticas, como a tilápia, que gera preocupações sobre a competição por recursos e os impactos sobre as espécies nativas. Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de tilápia, a preservação das espécies nativas é vital para a saúde dos ecossistemas aquáticos.
Estudos elogiam o potencial do tambaqui para fornecer variedades mais produtivas e resistentes a doenças, embora sua introdução no meio ambiente não seja ideal. A aquicultura, portanto, deve ser vista como uma oportunidade para promover a segurança alimentar e melhorar a subsistência local, sendo fundamental que políticas públicas considerem tanto pequenos quanto grandes produtores.
Conclusão
O estudo destaca que a aquicultura na Amazônia pode não apenas contribuir para a segurança alimentar, mas também oferecer uma alternativa econômica sólida e menos vulnerável em comparação a outras atividades, como a pesca. Para que essa expansão aconteça de forma responsável, é necessário desenvolver políticas que integrem a pesquisa científica às práticas sustentáveis no setor.
Para mais informações, o artigo Towards sustainable aquaculture in the Amazon está disponível para assinantes em Nature.
Informações da Agência FAPESP
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