Descoberta do Número Cromossômico das Vellozias: Importância e Impactos
Pesquisadores do Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC) determinaram, com precisão inédita, o número cromossômico das icônicas velózias dos campos rupestres, resolvendo uma questão genética que perdurava há décadas. Este estudo, publicado no Brazilian Journal of Botany, é um avanço significativo na botânica e na conservação da biodiversidade no Brasil.
Campos Rupestres e Biodiversidade
Os campos rupestres predominam no Cerrado brasileiro e são considerados um dos ecossistemas mais biodiversos e ameaçados do país. Nele, as Vellozias, conhecidas por sua resistência à seca e adaptação a solos pobres, emergem como espécies essenciais para estudos moleculares. Essa adaptabilidade torna a pesquisa sobre o número cromossômico dessas plantas vital para entender as características genéticas que possibilitam sua sobrevivência em condições extremas.
O Desafio da Pesquisa
Desde a década de 1980, cientistas tentam determinar o número de cromossomos das espécies de Vellozia, mas encontravam resultados controversos, que variavam entre sete a nove pares cromossômicos, dependendo da espécie. A confusão se deveu em parte à identificação errônea de alguns cromossomos como estruturas satélites, consideradas acessórios ao invés de cromossomos reais.
A equipe do GCCRC, composta por FAPESP e Embrapa, abordou essa problemática de maneira inovadora. Utilizando anticorpos contra proteínas do centrômero, conseguiram confirmar que os satélites identificados nas pesquisas anteriores eram, na verdade, cromossomos autênticos. Este método trouxe uma nova perspectiva sobre a organização genômica do gênero Vellozia e solucionou um debate de longa data.
Metodologia Inovadora
A pesquisa enfrentou um desafio técnico significativo: a dificuldade em obter células em metáfase, a fase em que os cromossomos são mais visíveis. Como as Vellozias crescem lentamente, a coleta de células em metáfase se tornava complexa. Para contornar essa limitação, os pesquisadores utilizaram hormônios nas sementes, resultando em um calo que apresentava uma taxa de divisão celular elevada. Isso possibilitou a obtenção de um número maior de células em metáfase e a contagem adequada dos cromossomos.
Importância das Descobertas
Para os pesquisadores, como Isabel Gerhardt, coordenadora do GCCRC, a solução desse enigma cromossômico é crucial não apenas do ponto de vista acadêmico, mas também para a evolução, conservação e genética das Vellozias. O número de cromossomos pode indicar eventos como poliploidia e fusões ou quebras cromossômicas, revelando como essas plantas se adaptaram ao ambiente hostil dos campos rupestres.
Além disso, a compreensão do número correto de cromossomos facilita a definição de espécies e linhagens evolutivas, o que é essencial para a preservação de populações ameaçadas. As descobertas também têm implicações biotécnicas, como a investigação de genes envolvidos na resistência à seca, que podem informar estratégias agrícolas para enfrentar as mudanças climáticas.
Conclusão
Os pesquisadores do GCCRC demonstraram que contar cromossomos pode ser um verdadeiro desafio, mas com o uso de métodos modernos, solucionaram um mistério que durava décadas. Esta descoberta redefine o conhecimento sobre o gênero Vellozia e contribui para a valorização da biodiversidade brasileira. Os interessados podem acessar o artigo "Revisiting the cytogenetics of Vellozia Vand.: immunolocalization of KNL1 elucidates the chromosome number for the genus" aqui.
Informações da Agência FAPESP