Atualmente, metade dos pacientes com linfoma não Hodgkin e com leucemia linfoblástica aguda – dois tipos de câncer que afetam células do sangue – não responde adequadamente ao tratamento com células CAR-T. Essa terapia inovadora consiste em coletar linfócitos T, células de defesa do próprio paciente, modificá-las em laboratório para que se tornem aptas a destruir células tumorais e reinjetá-las no organismo. No entanto, muitos desses casos refratários recidivam após imunoterapia convencional.
Para abordar esse desafio, pesquisadores brasileiros desenvolveram uma versão mais potente das células CAR-T, cujos detalhes foram divulgados na revista Cancer Research. A imunoterapia com células CAR-T tem revolucionado o tratamento do câncer, mas ainda há uma parcela significativa de pacientes que não apresenta resposta ao tratamento. Os cientistas testaram diversas drogas nas células CAR-T, e um inibidor do complexo de proteínas conhecido como PRC2 mostrou-se promissor ao inibir alterações epigenéticas que dificultavam a eficiência das células contra tipos específicos de tumores hematológicos.
O linfoma não Hodgkin frequentemente afeta adultos de meia-idade, enquanto a leucemia linfoblástica é mais comum em crianças. Os estudos foram realizados em células tumorais (in vitro) e em camundongos (in vivo), representando um passo inicial para potenciais ensaios clínicos em humanos no futuro.
O inibidor do PRC2 foi a droga que apresentou maior eficácia, uma vez que esse complexo de proteínas é necessário para regular a expressão dos genes que inibem a ação das células de defesa em um organismo saudável. Entretanto, no contexto do câncer, é essencial eliminar esses "freios" para permitir uma resposta imune robusta contra os tumores. A equipe de pesquisa focou em remover precisamente aqueles que limitavam a resposta imunológica contra o linfoma não Hodgkin e a leucemia linfoblástica aguda.
Fabricação de Células CAR-T
Os pesquisadores produziram células CAR-T a partir de células mononucleares de sangue periférico de doadores saudáveis e também coletaram células CAR-T de pacientes que foram tratadas no A.C. Camargo Cancer Center. Essas células foram modificadas com o inibidor do PRC2 e testadas em células tumorais resistentes à imunoterapia. Os resultados mostraram que os tumores foram eliminados de forma mais rápida e eficaz em comparação com amostras tratadas com versões convencionais de CAR-T.
Os testes em camundongos mostraram que, após o tratamento com o inibidor do PRC2, as células CAR-T modificadas levaram a uma melhora significativa em relação às tratadas convencionalmente. Isso indica que a modificação nas células CAR-T resulta em uma resposta mais duradoura e eficaz do sistema imunológico contra o câncer.
Os pesquisadores planejam agora investigar possíveis efeitos colaterais da terapia em camundongos, dado que tratamentos aprovados podem causar um aumento extremo da inflamação em pacientes. Essa condição é geralmente gerida com medicamentos que reduzem a inflamação, que fazem parte do protocolo da imunoterapia.
Se os novos estudos confirmarem a segurança da abordagem, a inibição do PRC2 poderá ser incorporada na fabricação das células CAR-T, aumentando a eficácia do tratamento sem incrementar os riscos sistêmicos.
O artigo completo, intitulado "Targeting PRC2 Enhances the Cytotoxic Capacity of Anti-CD19 CAR-T Cells Against Hematological Malignancies", pode ser acessado aqui.
Informações da Agência FAPESP
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