Livros ‘peludos’ desvendam segredos da Idade Média

5 Min

A Idade Média é um período intrigante e recheado de curiosidades que atraem a atenção de cientistas e acadêmicos. As principais publicações desse tempo lhe conferem um caráter especial. Elas não apenas descrevem seres fantásticos com detalhes extraordinários, mas geralmente também estão acompanhadas de ilustrações cativantes. O uso de materiais como pele de animais na encadernação desses livros, e ocasionalmente até de pele humana, contribui para a singularidade dessas relíquias.

Recentemente, um grupo de cadernos medievais na França foi foco de estudos que desvendaram uma “peculiaridade” notável. Detectou-se que as capas desses volumes eram confeccionadas em couro coberto por tufos de pelos de um animal até então não identificado, propondo novas hipóteses sobre a estrutura social e econômica da era medieval. As revelações foram detalhadas em um estudo publicado esta semana na Royal Society Open Science.

Esses volumes são contemporâneos de uma das maiores bibliotecas da Europa, que existiu na Idade Média, localizada na Abadia de Clairvaux. Esta abadia foi um centro vital de atividade espiritual e intelectual. Histórico, o local chegou a guardar cerca de 1.450 volumes, dos quais metade ainda apresenta condições próximas ao estado original. Embora alguns dos livros tenham recebido novas encadernações ao longo do tempo, existiram mantenimento de suas partes fundamentais.

Segundo informado pelo New York Times, os bestiários medievais, que eram populares na Idade Média, continham descrições e ilustrações de animais fantásticos. Amplamente, a encadernação desses livros era realizada com peles de diferentes mamíferos como bezerros, cabras e ovelhas. Por outro lado, algumas capas eram especificamente feitas de couro e cobertas por pelos, incluindo opções particularmente completas, apresentando o que anteriormente parecia carnes ervais desses animals.

Dentre essas descobertas, identificou-se um conjunto de cadernos originários do nordeste da França que levavam, intrigantemente, o reposicionamento dos programas protetores utilizando peles de vegais ou outros mamíferos. Os folículos de alguns manuscritos apresentaram características que não eram compatíveis com nenhum dos animais reconhecidos, levantando questões sobre suas origens exatas.

O estudo, coordenado pelo bioarqueólogo Matthew Collins, usou uma série de métodos que incluíram a extração de amostras das capas de 16 livros pertencentes à Abadia de Clairvaux. Collins relatou que as configurações apresentadas do couro desses volumes eram ásperas e peludas, indicando que não se tratava de couro convencional de bezerro. Para obter mais informações sobre a origem do material, a equipe fez análises profundas da estrutura genética do couro.

Evidentemente, a pesquisa concluiu que as capas em questão não eram feitas de pele de mamíferos locais, mas na verdade, utilizavam couro de foca, masse na presença dos pelos, com proveniência do norte. Os dados genéticos coletados indicaram que essas focas vieram de áreas próximas da Escandinávia e da Escócia, possibilidades que alcançavam até a Groenlândia e Islândia, onde os marítimos promoviam um comércio efetivo e ativo.

Esse aegmento ao mesmo tempo curioso e complexo indica que, em uma época anterior, existira uma rede comercial que ligava regiões que, no atual mapeamento, não parecem ter um nervoso comércio entre si. Clairvaux, com certeza, encontrava-se distante do mar e de acordos comerciais marítimos comuns durante a Idade Média. Esse curioso fator intrigou estudiosos. Isto insere na construção de uma nova compreensão sobre as trocas comerciais da época.

De acordo com Mary Wellesley, colaboradora no estudo e especialista em manuscritos medievais, essas descobertas expandem o conhecimento sobre a sociedade medieval. As focas, valiosas pelos múltiplos usos de seus produtos como carne, couro e gordura, eram um bem procurado. A encadernação de livros utilizando peles de foca era uma técnica comum nos locais costeiros da Escandinávia, mas vanguardista e, até então, impensável na Europa Continental.

Acontece que a prática dos monges franceses pode recorrer à ideias com estratégias mercadorias de resiliência. Além disso, o tom branco das peles de foca poderia ser requisitado para satisfazer a estética usual da vestimenta dos monges, em especial, num período em que os materiais brancos eram escassos. O apelo que as focas tinham na popularidade dos fluxos de conhecimento da época também não deve ser negligenciado. Na visão romântica dos bestiários, as focas eram referenciadas como “bezerros do mar”, refletindo a admiração do homem medieval por essas criaturas fascinantes.

Compartilhe Isso