Produção de Carne Bovina Excede em Mais do Dobro os Limites de Emissões de Gases de Efeito Estufa

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A produção de carne bovina no Brasil é um dos pilares da economia nacional, mas também corresponde a uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa. Atualmente, as emissões deste setor ultrapassam o dobro do limite necessário para atender às metas ambientais internacionais. Essa conclusão é parte de uma pesquisa publicada na revista Environmental Science and Pollution Research.

Emissões de Gases de Efeito Estufa na Pecuária

A pesquisa avaliou cenários preditivos de emissões e incluiu uma valoração econômica. As emissões do setor de carne bovina podem variar entre 0,42 a 0,63 gigatoneladas de CO2 equivalente (GtCO2e) até 2030, enquanto o limite para atender à Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) seria de 0,26 GtCO2e. Estratégias de mitigação ao longo da cadeia produtiva podem evitar perdas de até US$ 42,6 bilhões, além de aumentar a competitividade do setor.

A NDC é o compromisso dos países no Acordo de Paris, assinado em 2015, que será revisado até a COP30, em Belém (PA). As metas incluem diretrizes para a transformação do modelo de desenvolvimento, objetiva a limitação do aumento da temperatura média global a 1,5°C em relação ao período pré-industrial.

Impactos das Mudanças Climáticas

A pesquisa utilizou a meta NDC vigente até 2024, que propõe uma redução de 43% nas emissões até 2030 em comparação aos níveis de 2005. Recentemente, o Brasil apresentou uma nova contribuição, comprometendo-se a reduzir as emissões líquidas de gases de efeito estufa em até 1,05 bilhão de toneladas de CO2 equivalente até 2035, representando uma queda de 59% a 67% em relação a 2005.

A primeira autora do estudo, Mariana Vieira da Costa, enfatiza que o objetivo não é promover a redução do consumo de carne, mas discutir a necessidade de transformação das práticas de produção, que atualmente estão associadas ao desmatamento e altas emissões.

Custo Social do Carbono e Sustentabilidade

O estudo também incorporou o conceito de custo social do carbono (CSC), que quantifica o impacto financeiro das emissões na sociedade. O CSC reflete os custos econômicos causados pela emissão de uma tonelada de CO2, considerando fatores como perdas na agricultura e danos de eventos climáticos extremos. Políticas públicas que incentivem práticas de produção sustentáveis podem redirecionar esses custos para investimentos mais ecológicos.

Cenário Atual da Agropecuária

Nos últimos 40 anos, a área ocupada pela agropecuária no Brasil cresceu 50%, totalizando 282,5 milhões de hectares, o que representa um terço do território nacional. A maior parte da expansão se deu por meio do desmatamento, especialmente na Amazônia. As cientistas sugerem que é crucial um esforço conjunto entre pesquisa e produtores rurais para implementar técnicas sustentáveis que reduzam as emissões e aumentem a eficiência.

Embora o Plano ABC+, um programa do governo brasileiro que visa promover a adaptação e a baixa emissão de carbono no setor agrícola, atue como facilitador para investimentos em práticas sustentáveis, a adoção ainda é limitada.

Futuro do Setor de Carne Bovina no Brasil

O estudo conclui que medidas significativas na redução das emissões são urgentes. Caso contrário, os impactos econômicos adicionais podem incluir uma queda na produção agrícola e um aumento de problemas de saúde relacionados às mudanças climáticas.

Em 2023, o Brasil atingiu um recorde na exportação de carne bovina, o que destaca a importância desse setor para a economia nacional. No entanto, se a produção for ajustada para atender às metas de emissão de 0,26 GtCO2e, o consumo interno poderá variar entre 2 a 10 kg de carne bovina por pessoa.

O artigo intitulado “Brazilian beef production and GHG emission – social cost of carbon and perspectives for climate change mitigation” pode ser acessado aqui.

Informações da Agência FAPESP

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