Migrantes e Refugiados: A Formação da Imagem do ‘Indesejável’

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Indesejabilidade: Desafios e Reflexões sobre Migrações e Hospitalidade

O conceito de "indesejável" não é uma novidade; trata-se do que é considerado estrangeiro em nosso mundo, algo que vem de fora e que pode ser visto como uma ameaça. Essa ideia foi central na palestra do antropólogo e etnólogo francês Michel Agier, durante a segunda edição do ciclo de Conferências FAPESP 2025.

Trajetória Acadêmica de Michel Agier

Michel Agier, nascido em 1953, é diretor de estudos na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS) em Paris e pesquisador sênior emérito no Institut de Recherche pour le Développement (IRD). Sua carreira é marcada por investigações acerca de globalização, migrações e marginalidade urbana, com foco em campos de refugiados em diversas regiões, incluindo África Ocidental, Palestina e América Latina, especialmente em Salvador (BA) e Cali (Colômbia).

Temas Abordados na Palestra

Agier detenha-se na crise migratória de 2015 e introduziu o conceito de "indesejabilidade" como uma construção social e cultural. Ele destacou que palavras como "hostilidade" e "hospitalidade" compartilham uma raiz comum na etimologia, refletindo uma tensão entre as duas ideias. A ambivalência é evidente em campos de refugiados, que servem tanto como locais de acolhimento quanto de exclusão. Essa dicotomia provoca uma reflexão sobre a proteção dos estrangeiros e a percepção de ameaça que eles representam.

Indesejabilidade na Política Atual

O antropólogo observou que a indesejabilidade se manifesta em múltiplas camadas – jurídicas, sociais, simbólicas e afetivas. Ele mencionou que o conceito ganhou força em documentos administrativos no século 19 e ressurgiu nos discursos políticos contemporâneos, especialmente na Europa, onde homens jovens de origem racializada são frequentemente rotulados como "indesejáveis". Segundo Agier, essa desumanização leva à perda de direitos fundamentais, incluindo o direito à vida.

Impacto das Imagens na Percepção Social

Durante a conferência, Agier enfatizou o papel das imagens na construção do imaginário social. Muitas vezes, as representações dos migrantes nas mídias são cuidadosamente editadas para suscitar medo ou compaixão, influenciando diretamente a percepção pública sobre a migração. A manipulação da imagem pode reforçar estereótipos ou, alternativamente, humanizar a experiência migratória.

Possibilidade de Resistência e Hospitalidade

Apesar do cenário desolador, Agier também abordou a ideia de resistência, que pode se manifestar não apenas como um ato político, mas como uma prática de convivência. Ele destacou conceitos africanos como Zumunti, Teranga e Ubuntu, que representam formas de relação e acolhimento que podem servir como modelos para uma cosmopolítica da hospitalidade. Esses conceitos enfatizam a importância da solidariedade e da interdependência, sugerindo que a hospitalidade deve ser um valor central em nossa convivência.

Concluindo a Conferência FAPESP 2025

A 2ª Conferência FAPESP 2025, intitulada "Migrações Internacionais: Práticas e Linguagens da Hostilidade e da Hospitalidade", foi presidida por Marta Arretche, professora da Universidade de São Paulo (USP), com moderação de Ana Carolina Maciel, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A palestra de Agier é uma reflexão necessária sobre os desafios contemporâneos enfrentados por migrantes e a necessidade de acolhimento e empatia na sociedade.

Para assistir à conferência na íntegra, acesse: www.youtube.com/live/FN7wXjQkXpk.

Informações da Agência FAPESP

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