Degradação da Caatinga e o Impacto do Sobrepastejo na Saúde do Solo
A Caatinga é o único bioma exclusivo do Brasil, abrigando a maior área contínua de floresta tropical sazonalmente seca do mundo. Entretanto, atividades humanas como pecuária, agricultura e exploração de lenha têm gerado degradação ambiental em larga escala, somada às mudanças climáticas, que podem levar à desertificação.
Um estudo focado em áreas de exploração pecuária no semiárido de Pernambuco revelou que a simples interrupção do pastejo não é suficiente para recuperar a saúde do solo. Os pesquisadores sugerem práticas complementares, como adubação verde e plantio estratégico de árvores, que mostraram resultados positivos em outros biomas tropicais. Essas intervenções são essenciais para acelerar a restauração das funções do solo, contribuindo para a melhoria do aporte de carbono e nitrogênio, além da ciclagem de nutrientes e biodiversidade.
A pesquisa, que faz parte da Rede Perene, vinculada ao Observatório Nacional da Dinâmica da Água e do Carbono no Bioma Caatinga, analisa os impactos do sobrepastejo e os efeitos da exclusão de animais de áreas cercadas. Os resultados foram publicados no Journal of Environmental Management.
Os pesquisadores compararam solos de três tipos de cobertura na região: florestas densas preservadas, florestas abertas em regeneração e áreas de pastejo prolongado com histórico de sobrepastejo. O estudo revelou que o sobrepastejo compacta o solo e reduz a disponibilidade de nutrientes essenciais, comprometendo suas funções físicas, químicas e biológicas. A exclusão de animais não resultou em melhorias significativas mesmo após três anos.
Em uma análise regional, a transição da floresta densa para pastagens degradadas resultou em uma perda de 14,7 toneladas de carbono por hectare, contribuindo para a emissão de gás carbônico na atmosfera e o aquecimento global. O estudo também mostrou uma queda de 18% em um índice de saúde do solo, considerando a diminuição de indicadores biológicos, como a biomassa microbiana e glomalina.
O conceito de "saúde do solo" refere-se à capacidade deste de sustentar a biodiversidade, incluindo microrganismos, plantas e animais, mantendo funções vitais como absorção de água e ciclagem de nutrientes. No contexto da Caatinga, o sobrepastejo tem um efeito devastador sobre a saúde do solo, mostrando que a exclusão de animais não é uma solução suficiente a curto prazo. A recuperação das áreas degradadas exige um manejo ativo e práticas adicionais.
A adubação verde representa uma técnica promissora, que envolve o cultivo de plantas que melhoram a estrutura e fertilidade do solo. Essas plantas, muitas vezes leguminosas, ajudam na fixação de nitrogênio e proteção do solo. Após um período de crescimento, podem ser incorporadas ao solo, promovendo a fertilidade.
O plantio estratégico de árvores também é vital. Arvores de crescimento rápido formam copas densas que protegem o solo e criam um ambiente propício para a regeneração de outras espécies.
A Caatinga, com seu clima semiárido, apresenta desafios únicos. A escassez e irregularidade das chuvas, aliadas à intensa perda de umidade do solo, resultam em vegetação adaptada ao ambiente, como arbustos que perdem folhas na seca. A utilização insustentável da vegetação nativa tem contribuído para uma alta degradação ecológica.
A degradação do solo começa com a remoção da vegetação nativa, seguida pela implantação de pastagens e a compactação do solo, que impede a infiltração de água. Essa apresentação evidencia a necessidade de políticas públicas voltadas para a recuperação e manejo sustentável da Caatinga, assegurando a preservação de seus serviços ecossistêmicos.
O estudo realizado em três municípios do semiárido de Pernambuco — Araripina, Sertânia e São Bento do Una — inclui coletas de solo e amostragens de vegetação para avaliar a degradação e os sinais de recuperação. Essa pesquisa é fruto de uma colaboração entre universidades e instituições e foi apoiada pela FAPESP por meio de vários projetos.
Para mais informações, consulte o artigo completo "From overgrazed land to forests: assessing soil health in the Caatinga biome" no Journal of Environmental Management.
Informações da Agência FAPESP
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