Avanços no Tratamento de Déficits Respiratórios em Pacientes com Doença de Parkinson
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) descobriram um novo caminho promissor para tratar déficits respiratórios em pacientes com Doença de Parkinson. Essa condição, frequentemente negligenciada, pode resultar em complicações graves, como pneumonia e óbito.
Problemas Respiratórios e a Doença de Parkinson
Embora as dificuldades motoras sejam os sintomas mais evidentes da Doença de Parkinson, o estudo evidenciou que problemas respiratórios, especialmente durante o sono, também são uma preocupação significativa. Atualmente, não existem tratamentos eficazes para essa questão.
O estudo, publicado na revista iScience, demonstrou que a estimulação seletiva de um núcleo cerebral específico reverteu falhas respiratórias em camundongos. Essa descoberta abre novas possibilidades para terapias voltadas a pacientes com Parkinson.
Impacto das Complicações Respiratórias
Complicações respiratórias surgem frequentemente em estágios avançados da Doença de Parkinson, afetando a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes. A coordenadora do estudo, Ana Carolina Takakura, destacou a importância de entender a relação entre essas complicações e o ciclo de sono dos pacientes. "Identificamos que as alterações respiratórias ocorrem exclusivamente durante o sono, permitindo a restauração da função respiratória em camundongos", explicou.
Relação com Pneumonia
O estudo indica que a prevalência de problemas respiratórios em pacientes com Parkinson está associada a um aumento nos casos de pneumonia, uma das principais causas de morte entre esses pacientes. A pesquisadora enfatizou a importância de examinar a degeneração das áreas cerebrais responsáveis pela respiração.
Os resultados revelaram que, em modelos experimentais da doença, tanto a frequência respiratória quanto a funcionalidade de núcleos específicos são afetadas. O avanço mais significativo foi identificar a relação dessas alterações com o sono.
Investigando Apneias Respiratórias
Apneias respiratórias, uma consequência comum da doença, afetam cerca de 70% dos pacientes. Takakura ressaltou que essas condições, embora classificadas em estudos do sono, são também um problema respiratório significativo.
Durante a pesquisa, foi observado que as alterações na respiração eram mais acentuadas durante o sono. Com isso, a equipe decidiu explorar novas possibilidades terapêuticas através da estimulação de um núcleo cerebral conhecido como nucleus tegmental látero-dorsal (LDT), que tem forte correlação com a respiração e a Doença de Parkinson.
Experimentos e Resultados
As fases do sono dos camundongos foram monitoradas utilizando eletroencefalogramas e eletromiografias. Os resultados mostraram que as alterações na respiração eram significativamente mais expressivas durante o sono e que a quantidade de episódios de apneia também aumentava nesse período.
O estudo seguiu utilizando o método quimiogenético, que, apesar de ainda estar restrito à pesquisa clínica, promete ser uma ferramenta valiosa no tratamento futuro da Doença de Parkinson. A estimulação seletiva, que minimiza efeitos adversos, é considerada mais eficaz em comparação a abordagens que afetam regiões cerebrais inteiras.
Perspectivas Futuras
Além de estudar a segurança e eficácia do metabólito clozapina-N-oxide (CNO) em humanos, Takakura planeja caracterizar as alterações de sono em pacientes, em parceria com o Instituto do Coração (InCor) e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HC-FMUSP).
Atualmente, a estimulação cerebral profunda é uma das principais terapias para a Doença de Parkinson, mas ela não trata eficazmente os problemas respiratórios. O foco no entendimento e no tratamento dessas complicações é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
O artigo completo, “Sleep-related respiratory disruptions and laterodorsal tegmental nucleus in a mouse model of Parkinson’s disease”, pode ser acessado aqui.
Esse avanço na pesquisa mostra a importância de um enfoque multidisciplinar e inovador para o tratamento de sintomas frequentemente subestimados na Doença de Parkinson.
Informações da Agência FAPESP