Imunoterapia com toxina de cascavel
Uma recente descoberta científica sugere que uma toxina presente no veneno da cascavel pode ser uma arma promissora no combate a uma doença que afeta a humanidade de forma mais impactante do que as próprias picadas de cobra: o câncer. A pesquisa, conduzida pelo Instituto Butantan, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e com a Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), revelou que a toxina pode ser utilizada para induzir células de defesa do organismo a atacar tumores com maior eficácia.
Experimentos realizados em ratos com câncer demonstraram a capacidade de uma toxina presente no veneno da cascavel em eliminar tumores. Isso porque ela aumenta a presença de células do sistema imunológico, conhecidas como macrófagos, que têm a capacidade de inibir o crescimento tumoral no organismo dos ratos. Os resultados dos testes revelaram que o tratamento com uma dosagem pequena foi eficaz na manutenção dessas células, aumentando em até 60% a sua presença.
Por outro lado, dosagens maiores não apenas mantiveram esse aumento, mas também reduziram a presença de outro tipo de macrófagos que promovem o crescimento tumoral. Em resumo, o tratamento pode levar ao desenvolvimento de imunoterapias mais eficazes no combate ao câncer.
Efeitos da toxina em diferentes dosagens
Os experimentos foram realizados ao longo de 13 dias, nos quais ratos com tumores abdominais foram divididos em três grupos, recebendo cada um: solução salina, uma pequena dose de toxina (0,9 microgramas) e uma dose maior (5 microgramas). A menor dose da toxina resultou em um aumento nos macrófagos “antitumorais”, enquanto a dose maior manteve esse crescimento e diminuiu a presença dos macrófagos “protumorais”.
Além disso, após seis dias, o volume do tumor reduziu significativamente nos camundongos tratados com a toxina, especialmente naqueles que receberam a menor dose, com uma redução de 27%. Essa quantidade de toxina também aumentou em 35% a produção de óxido nítrico pelos macrófagos, substância responsável pela destruição das células tumorais.
“Isso demonstra que a menor dose é suficiente para modular os macrófagos e reduzir o tumor”, declarou Sandra Coccuzzo, coordenadora do estudo, à Agência FAPESP. “Portanto, há a necessidade de pesquisar novas combinações e reduzir possíveis efeitos tóxicos da molécula para o organismo”.
Os detalhes do estudo foram publicados na revista Toxins. A pesquisa abre novas perspectivas no tratamento do câncer, utilizando a toxina da cascavel como uma ferramenta eficaz para estimular o sistema imunológico a combater os tumores de forma mais assertiva e com menos efeitos colaterais.