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Explorando o rio Preto: poraquês em ‘condomínios’ submersos nas margens dos igarapés – Capítulo 3 do Diário de Campo

Estar em um igarapé, riacho que nasce na floresta e desemboca no rio, pode ser o mesmo que visitar um condomínio quando se trata da bacia do rio Negro. Nesse caso, parte dos moradores são poraquês da espécie Electrophorus varii, que emitem pulsos elétricos de até 650 volts.

Essa foi a situação encontrada pela Expedição DEGy Rio Negro durante sua passagem pelo rio Preto, no município de Santa Isabel do Rio Negro. Durante um percurso de cerca de 3 quilômetros por um igarapé na margem oposta à comunidade de Campina do Rio Preto, os pesquisadores detectaram sinais elétricos dos poraquês, mas não avistaram nem conseguiram capturar nenhum exemplar.

“Na vegetação típica das margens dos igarapés, o igapó, muitas vezes as bases dos troncos ficam ocas. Algumas formam domos em que os poraquês podem se abrigar e subir para respirar sem precisar sair da toca [a respiração desses peixes ocorre com a absorção de ar atmosférico por meio de um órgão respiratório na boca]. São locais ideais para pôr os ovos, fertilizá-los e cuidar dos filhotes”, explica Carlos David de Santana, pesquisador associado ao Museu Nacional de História Natural, da Smithsonian Institution, nos Estados Unidos.

Além desses ocos, o solo cheio de raízes das margens pode ser bastante fofo, permitindo que os poraquês se aproveitem dos túneis formados naturalmente, que podem adentrar vários metros a margem dos igarapés.

“Quando o nível das águas subir e os filhotes já forem independentes, os poraquês vão transitar por toda a área alagada do igapó, sendo muito mais fácil visualizá-los”, completa Santana.

A equipe encontrou peixes de outros grupos que também se aproveitam das tocas na margem dos igarapés, como as traíras.

Para demonstrar o procedimento realizado quando capturam um poraquê em campo, uma parte da equipe foi até o Bosque da Ciência, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, ao fim da expedição. Um poraquê da espécie comum na bacia do rio Negro (Electrophorus varii) é mantido em cativeiro no local.

Esse tipo de descarga é uma característica de todas as espécies de peixes-elétricos, tanto dos poraquês como dos sarapós. Cada espécie emite ondas elétricas com forma, amplitude e frequência específicas.

As descargas médias e fortes, por sua vez, são uma exclusividade dos poraquês e emitidas por meio de diferentes órgãos elétricos.

“De modo geral, os poraquês são animais muito resilientes, sobrevivendo aos ambientes mais inóspitos. A evolução da sua anatomia, especialmente dos órgãos elétricos, e de suas descargas certamente contribuiu para que chegassem até aqui. É um grande quebra-cabeça que estamos ajudando a montar”, encerra Mendes.

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