O Banco Central (BC) informou nesta quinta-feira (24) que as contas externas do país registraram um saldo negativo de US$ 4,029 bilhões em junho de 2024. Em comparação com o mesmo mês do ano anterior, quando houve um déficit de US$ 182 milhões nas transações correntes, houve uma piora significativa.
A queda de US$ 3,3 bilhões no superávit comercial foi o principal fator que contribuiu para o resultado negativo nas transações correntes. Além disso, os déficits em serviços e renda primária aumentaram em US$ 399 milhões e US$ 46 milhões, respectivamente. O superávit da renda secundária também teve uma redução de US$ 148 milhões.
Em relação aos últimos 12 meses encerrados em junho, o déficit em transações correntes totalizou US$ 31,453 bilhões, representando 1,41% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse valor é maior do que o saldo negativo de US$ 27,605 bilhões (1,23% do PIB) registrado no mês anterior. No entanto, houve uma diminuição em relação ao período equivalente terminado em junho de 2023, quando o déficit em 12 meses foi de US$ 39,281 bilhões (1,93% do PIB).
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Segundo Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, as transações correntes apresentam um cenário robusto, com uma tendência de redução nos déficits em 12 meses que se inverteu a partir de março deste ano. Mesmo assim, o déficit externo é considerado baixo para os padrões da economia brasileira e é financiado por capitais de longo prazo, principalmente pelos investimentos diretos no país, que possuem fluxos de boa qualidade.
No mês de junho, o Investimento Direto no País (IDP) atingiu US$ 6,269 bilhões, o melhor resultado desde junho de 2013, quando alcançou US$ 10,3 bilhões. Esse desempenho demonstra uma tranquilidade nas contas externas brasileiras.
No acumulado de janeiro a junho de 2024, o déficit nas transações correntes foi de US$ 18,691 bilhões, em comparação com o saldo negativo de US$ 8,983 bilhões no primeiro semestre de 2023. Essa diferença é explicada pela redução do superávit comercial em US$ 4,2 bilhões e, principalmente, pelo aumento do déficit da conta de serviços em US$ 5,2 bilhões.
Fernando Rocha ressaltou que desde o ano passado, as transações em serviços têm sido relevantes para a dinâmica das transações correntes e da economia brasileira como um todo.
Em relação à balança comercial, houve uma redução no superávit devido ao crescimento das importações. As exportações tiveram um aumento baixo no primeiro semestre, de 0,6%, explicado principalmente pela redução nos preços internacionais. Mesmo assim, as exportações atingiram o maior valor da série histórica para os primeiros semestres de cada ano.
As exportações de bens totalizaram US$ 29,322 bilhões em junho, uma redução de 1,8% em relação ao mesmo mês de 2023, devido à queda dos preços das commodities e ao aumento do frete. Já as importações somaram US$ 23,278 bilhões, com um aumento de 13,2% na comparação com junho do ano passado.
A balança comercial fechou o mês com um superávit de US$ 6,044 bilhões, enquanto no mesmo período de 2023 o saldo positivo foi de US$ 9,299 bilhões. A contabilidade da balança comercial não inclui mais as transações com criptoativos, que passaram a ser considerados ativos não financeiros não produzidos, com registro na conta de capital.
Em relação aos serviços, o déficit na conta de serviços em junho foi de US$ 4,144 bilhões, um aumento de 10,7% em comparação com o mesmo mês de 2023. Destaca-se o crescimento na corrente de comércio de serviços, com recordes tanto em receitas quanto em despesas. O déficit em serviços de propriedade intelectual teve uma das maiores altas, chegando a US$ 793 milhões, impulsionado pelos serviços de streaming.
No que diz respeito às rendas, em junho de 2024, o déficit em renda primária alcançou US$ 6,166 bilhões, um valor ligeiramente acima do registrado no mesmo mês do ano anterior. As despesas líquidas com juros foram de US$ 2,338 bilhões, 5,5% menor do que em maio de 2023. Já os lucros e dividendos associados aos investimentos diretos e em carteira tiveram um déficit de US$ 3,865 bilhões em junho, um aumento de 5,9% na comparação interanual.
No que se refere ao financiamento do saldo negativo em transações correntes, os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) aumentaram na comparação interanual. O IDP totalizou US$ 6,269 bilhões em junho, ante US$ 1,950 bilhão em junho de 2023. O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 357,841 bilhões em junho de 2024, representando um aumento de US$ 2,281 bilhões em comparação com o mês anterior.
Nesta edição das estatísticas do setor externo, o BC apresentou revisões no balanço de pagamentos, incluindo a incorporação dos resultados da pesquisa de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) e revisões metodológicas. Em 2023, o déficit em transações correntes foi revisado para US$ 21,7 bilhões, uma redução de US$ 9,1 bilhões em relação à estimativa anterior. Essa revisão decorreu principalmente da reclassificação metodológica das transações com criptoativos.
As revisões também impactaram as estatísticas do setor externo para o período de janeiro a maio de 2024, com o déficit em transações correntes sendo revisado para US$ 14,7 bilhões. Houve ampliação nos superávits da balança comercial e da renda secundária, compensados parcialmente pelos aumentos nos déficits em serviços e em renda primária.
Com informações da Agencia Brasil