O setor de serviços não financeiros atingiu, em 2022, um contingente de 14,2 milhões de pessoas ocupadas, alcançando um recorde no volume de mão de obra dentro da série histórica iniciada em 2007 e um patamar 13,9% superior ao registrado em 2013. A evolução em comparação com o ano de 2021 foi de 5,8%, o que representa 773,1 mil pessoas a mais empregadas. No acumulado entre 2019, ano imediatamente anterior à pandemia, e 2022, o volume de mão de obra avançou 10,3%.
Entre as 34 atividades analisadas, cinco concentram 47,3% das pessoas ocupadas do setor: Serviços de Alimentação (11,6%); Serviços Técnico-Profissionais (11,4%); Transporte Rodoviário de Cargas (8,4%); Serviços para Edifícios e Atividades Paisagísticas (8,2%); e Serviços de Escritório e Apoio Administrativo (7,7%).
Os dados são provenientes da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2022, divulgada nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Leia Também
Segundo o analista da PAS, Marcelo Miranda, as 14,2 milhões de pessoas ocupadas receberam um total de R$ 518 bilhões em salários e remunerações, trabalhando em aproximadamente 1,6 milhão de empresas que geraram uma receita operacional líquida de R$ 2,7 trilhões e um valor adicionado bruto de R$ 1,5 trilhão. “Isso demonstra a importância do setor de serviços no país”, comentou em uma videoconferência.
Apesar do aumento de 10,3% no volume de mão de obra no acumulado entre 2019 e 2022, o segmento dos Serviços Prestados, Principalmente, às Famílias registrou uma redução de 3,2% ou 92,4 mil empregos a menos. A explicação para isso foi o período da pandemia, quando grande parte da população estava em isolamento e não utilizava esse tipo de atividade. No entanto, desde então, tem havido uma recuperação.
“Esse segmento engloba atividades muito dependentes do contato presencial, como restaurantes e hotelaria, o que explica em parte essa perda de participação. No entanto, percebe-se que após 2020, em 2021 e 2022, houve uma recuperação e um aumento na participação nos últimos dois anos”, indicou.
Considerando também o volume de pessoas ocupadas, o maior avanço no emprego em 2022 foi na atividade de Serviços Técnico-Profissionais, que registrou um crescimento de 166,1 mil pessoas, alcançando um patamar mais elevado em comparação com 2021 e também em relação ao período pré-pandemia. No acumulado de 2019 a 2022, houve um acréscimo de 353,8 mil pessoas ocupadas.
A Pesquisa Anual de Serviços analisa a atividade nos segmentos de Serviços Prestados Principalmente às Famílias; Serviços de Informação e Comunicação; Serviços Profissionais, Administrativos e Complementares; Transportes, Serviços Auxiliares aos Transportes e Correio; Atividades Imobiliárias; Serviços de Manutenção e Reparação; e Outras Atividades de Serviços.
“O objetivo da PAS, diferente das pesquisas conjunturais, é analisar as mudanças estruturais e grandes alterações que ocorreram ao longo de um período, bem como algumas análises relevantes que identificamos a partir de 2019, que é o ano pré-pandemia. Consideramos que algumas comparações em relação a 2019 são importantes”, afirmou o analista.
As variáveis analisadas incluem Emprego e Salários; Receita de Prestação de Serviços; Custos e Despesas; e Regionalização da Receita de Serviços, Empregos e Salários.
“A pesquisa não investiga os efeitos de causalidade, ou seja, o porquê de determinado evento ocorrer. Não fazemos esse tipo de questionamento. Temos apenas perguntas objetivas e numéricas, e apresentamos as variáveis”, apontou Miranda.
No total, 128.664 entidades empresariais do setor de serviços não financeiros participam da PAS. Para responder à pesquisa, a empresa deve ter como atividade principal a prestação de serviços não financeiros, estar ativa no Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE e ser sediada em território nacional. Na Região Norte, a pesquisa abrange apenas municípios das capitais, com exceção do Pará, onde é realizada nos municípios da Região Metropolitana de Belém.
Em 2022, o trabalhador médio do setor de serviços recebeu cerca de 2,3 salários-mínimos (s.m) mensais. O segmento de Serviços Prestados Principalmente às Famílias foi o que pagou os menores salários (1,4 s.m.), enquanto os maiores salários foram observados no segmento de Serviços de Informação e Comunicação (4,8 s.m.). São Paulo foi a unidade da federação que ofereceu a maior remuneração média (2,9 s.m.), enquanto Roraima e Piauí apresentaram os menores salários médios (1,3 s.m.). Ao longo de 10 anos, a remuneração média do setor permaneceu estável em torno de 2,3 s.m.
No que diz respeito à receita operacional líquida, o segmento de Serviços de Informação e Comunicação foi o que mais perdeu participação ao longo de 10 anos, com uma redução de 5,6 pontos percentuais (p.p.), enquanto o segmento de Outras Atividades de Serviços foi o que mais avançou, com um aumento de 3,4 p.p. no mesmo período.
O segmento mais representativo em 2022 foi o de Transportes, Serviços Auxiliares aos Transportes e Correio, que respondeu por 29,8% da receita operacional líquida do setor de serviços, representando um incremento de 1,2 p.p. em 10 anos. Em contrapartida, o segmento de Serviços de Informação e Comunicação apresentou a maior redução de importância dentro do setor de serviços, com uma retração de 5,6 p.p.. A atividade de Telecomunicações contribuiu significativamente para esse resultado negativo, diminuindo sua representatividade em 6,7 p.p..
A atividade de Telecomunicações foi a que registrou a maior redução de participação (6,7 p.p.) entre 2013 e 2022, caindo do primeiro para o quinto lugar em receita operacional líquida. Por outro lado, a atividade de Tecnologia da Informação apresentou o maior aumento de participação, com um crescimento de 3,4 p.p.. Nesse mesmo período, o Transporte Rodoviário de Cargas aumentou sua participação em 2,5 p.p.. “Dentre as 34 atividades pesquisadas dentro dos segmentos, é a que mais gerou receita operacional líquida, com 13,1% do total das receitas do setor de serviços do país”, acrescentou.
Outro aspecto revelado pela PAS é que, entre 2013 e 2022, houve uma redução na concentração de mercado nas oito maiores empresas do setor de serviços, chamada de R8, de 9,5% para 6,8% de toda a receita operacional líquida do setor. Esse resultado foi determinado pelos recuos, ao longo desses 10 anos, de 5,1 pontos percentuais (p.p.) no segmento de Serviços de Informação e Comunicação e de 3,3 p.p. em Transportes, Serviços Auxiliares aos Transportes e Correio. “Houve uma queda na concentração ao longo dos anos, mas, ainda assim, as oito maiores empresas representam, em 2022, 30,8% do total da receita gerada por esse segmento dentro do setor de serviços”, observou.
Nas regiões do país, junto com a menor participação dos Serviços de Informação e Comunicação na receita do setor, houve um aumento da representatividade dos Serviços Profissionais, Administrativos e Complementares no ranking das Regiões Nordeste (31%), Sudeste (27,7%), Norte (27,2%) e Sul (25,9%). No Centro-Oeste, no entanto, a liderança ficou com o Transporte Rodoviário (26%).
Em 2022, o Sudeste concentrou 65,4% da receita bruta de serviços gerada no país. O Transporte Rodoviário, que inclui o de passageiros e o de cargas, liderou em Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, enquanto em outras unidades da federação, a liderança foi da prestação de Serviços Profissionais, Administrativos e Complementares.
A Região Nordeste permaneceu com os menores salários médios na série da pesquisa, enquanto o Sudeste apresentou remuneração acima da média nacional.
Para explicar a diferença entre comércio e serviços, o IBGE utilizou o exemplo da compra de um refrigerante em um supermercado para consumo em casa, que representa uma atividade comercial. Já o serviço ocorre quando o consumo desse produto é em uma lanchonete.
No entendimento do IBGE, o setor de prestação de serviços não financeiros reflete o desempenho dos principais indicadores macroeconômicos em 2022, principalmente a redução do desemprego, que encerrou o ano em 7,9%. Além disso, foi influenciado pelo crescimento de 3% do PIB, com destaque para o avanço de 4,1% no consumo das famílias.
Segundo os pesquisadores, a intensificação da retomada da atividade econômica após o auge da pandemia de covid-19 pode estar associada a uma parte considerável do resultado do setor de serviços, bem como ao impulso em setores com forte integração com outras áreas da economia.
“Os resultados da PAS 2022 estão inseridos nesse contexto de plena retomada das atividades produtivas e intensificação de setores-chave na vida de cidadãos e empresas, como é o caso de Transportes e Tecnologia da Informação”, destacou o IBGE.
O analista da pesquisa explicou que os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul não foram considerados nos cálculos, pois a PAS analisa dados até 2022. “Os eventos que ocorreram no Rio Grande do Sul em 2024 ainda não podem ser verificados nesta pesquisa, pois estamos trabalhando com dados até 2022. Somente teremos percepção do que ocorreu e da influência desses eventos na região sul, devido às inundações, nos dados da pesquisa de 2024, daqui a dois anos”, informou.
Com informações da Agencia Brasil