Em 2016, o trabalhador brasileiro sofreu a maior queda de salários em termos reais entre os países do G-20. Em 2015, já esteve entre as três nacionalidades que mais perderam em todo o mundo, de acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados na quinta-feira, 15. Este levantamento é sobre o comportamento dos salários pelo mundo, que costuma ser publicado apenas a cada dois anos.
De acordo com a entidade, a queda no salário real do brasileiro deve ser de 6,2% neste ano, quase o dobro de perda em comparação com 2015, que foi de 3,7%.
Apenas a Rússia e Ucrânia haviam apresentado uma queda mais acentuada que a do Brasil em termos reais no ano passado por conta dos vestígios de um conflito armado e sanções. Mas, neste ano registraram estabilização nos salários.
Neste ano, o caso do trabalhador brasileiro foi contrário: a crise se aprofundou ainda mais e o cenário aponta para uma nova queda em 2017. “Os números que estamos vendo não são nada encorajadores”, disse Deborah Greenfield, vice-diretora da OIT.
Segundo a representante da OIT, um dos impactos mais imediatos na queda dos salários no Brasil deve ser a redução do consumo na economia e, claro, na demanda agregada.
“A desaceleração de renda tem um impacto muito grande em famílias e isso vai ser sentido em toda a economia”, alertou. “Os ganhos dos últimos anos podem sofrer uma erosão”, disse.
Na avaliação dos especialistas da OIT, os dados brasileiros sugerem que a recuperação do crescimento da economia poderá levar mais tempo que se imagina, diante da perda do poder aquisitivo da população durante pelo menos dois anos.
Patrick Belser, autor do informe, também destaca a queda “dramática” do salário no País. A recessão e a queda nos preços de commodities influenciaram. “A redução continuou em 2016 e a demanda agregada também vai sofrer”, disse.
De acordo com a OIT, o resultado negativo do Brasil teve um impacto até mesmo na média salarial na América Latina, com a região registrando uma queda de 1,3% em 2015.
Nos grandes países emergentes, o que se viu foi uma desaceleração da expansão dos salários. Ainda assim, eles continuaram a aumentar. Em 2012, essas economias viam seus salários reais aumentar em 6,6%. Para 2015, a taxa foi de 2,5%.
Outro alerta da OIT se refere ao impacto na desigualdade social. “Estudos mostram que o aumento de salários ajuda a combater desigualdades”, constatou Greenfield. “Não estamos vendo combate à desigualdade. Mas o contrário”, alertou.
Ainda que o Brasil tenha reduzido seus índices de injustiça social, com o aumento do salário mínimo, a OIT insiste que o País continua sendo um dos mais desiguais do mundo.