Não está fácil adoçar a vida nesta Páscoa. O preço do cacau simplesmente dobrou de janeiro a março deste ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, as cotações triplicaram, tornando os custos da indústria de chocolate muito mais amargos.
A valorização foi tão intensa, que a tonelada do cacau superou o valor do cobre nas bolsas internacionais. Nem mesmo a Nvidia, vedete do mercado de capitais, conseguiu superar a alta acumulada da commodity nos três primeiros meses de 2024.
Ontem, a tonelada do cacau até caiu na bolsa de Nova York, para US$ 9.741, diante do movimento de alguns fundos para embolsar lucros generosos. Durante a semana, a cotação dos contratos futuros chegou a superar a barreira dos US$ 10 mil.
Duas razões justificam o atual cenário. A primeira é a escassez da matéria-prima no mercado global, por causa de problemas especialmente na Costa do Marfim e Gana, dois dos maiores produtores do mundo. Os países registraram quebra de safra por causa de problemas climáticos e também de doenças durante a colheita.
As indústrias processadoras acabaram ficando em uma situação difícil, depois que nenhum sinal de alívio na oferta se mostrou suficiente para recompor os estoques. “Não vejo a demanda caindo com rapidez ou força suficiente para compensar a enorme queda na oferta”, disse Vladimir Zientek, associado da StoneX, à Bloomberg.
A baixa disponibilidade de cacau está tumultuando o mercado futuro. À medida que os preços sobem nas bolsas, os traders precisam ir ao mercado para comprar novos contratos para cobrir posições vendidas assumidas anteriormente, ou atender as seguidas chamadas de margem da bolsa.
O Brasil, que no passado já foi um dos grandes produtores globais de cacau, hoje precisa se abastecer em outras origens para cobrir sua demanda. O país produz por ano cerca de 274 mil toneladas de cacau, segundo o último levantamento do IBGE.
Para suprir a demanda doméstica, as indústrias precisaram importar 43,3 mil toneladas de cacau em 2023, como realçou a fintech Vixtra. O volume do ano passado foi quase quatro vezes maior que o registrado em 2022, quando o Brasil trouxe do exterior 11,4 mil toneladas do produto.
Ainda que as indústrias brasileiras não tenham precisado pagar US$ 10 mil por tonelada para garantir matéria-prima para a Páscoa deste ano, tiveram que pagar mais. Em 2023, os importadores desembolsaram, em média, US$ 2.547 pela tonelada do produto. Esse valor foi 5,5% mais elevado que os US$ 2.413 de 2022.
Uma pesquisa do Procon-SP com itens tradicionalmente consumidos durante a Páscoa, como ovos, bombons e tabletes de chocolate, mostra cenários distintos. O preço médio do quilo do bombom, por exemplo, subiu 8,76% em relação ao ano passado. Nos tabletes, a valorização foi de 8,30%. Já nos cobiçados ovos de chocolate, houve uma queda de 15,52%, caindo de R$ 318,26 para os atuais R$ 268,87.
E os sinais no curto prazo não são dos mais positivos para quem aposta em uma queda acentuada dos preços. Isso porque as novas regras da União Europeia que exigem a comprovação que os produtos importados não sejam provenientes de áreas desmatadas devem entrar em vigor no fim de 2024.
Os importadores europeus ainda lutam para comprovar a “origem verde” do cacau que abastece as fábricas. O lobby para que a regulamentação seja adiada tem crescido em Bruxelas. O atraso para a implementação das novas regras é visto pelo mercado como uma das poucas medidas capazes de derrubar os preços internacionais.