O Banco Central do Brasil está previsto para efetuar um corte de 50 pontos-base na taxa Selic na próxima reunião, agendada para os dias 7 e 8 de maio. No entanto, a expectativa é de que a partir de junho o ritmo de cortes seja desacelerado, levando a taxa Selic ao final do ano para um patamar em torno de 9,0%. Essa projeção foi revelada em um estudo exclusivo da Kínitro Capital, obtido com exclusividade pelo InfoMoney, que analisa o desempenho recente da inflação de serviços no país e suas implicações para a política econômica.
De acordo com o estudo, após a dissipação dos choques de oferta que impulsionaram a inflação, o Brasil agora ingressa em um segundo estágio, conhecido como “última milha”, momento em que se esperava uma desaceleração nos preços dos subitens mais sensíveis ao ciclo econômico.
No entanto, o Comitê de Política Monetária (Copom) tem demonstrado maior preocupação com os possíveis impactos do aumento dos ganhos reais e do crescimento acelerado da massa salarial sobre a dinâmica da inflação de serviços.
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“Desde o final de 2023, observou-se um aumento mais acentuado desses subitens no IPCA, o que tem gerado debates sobre a continuidade do processo nessa ‘última milha’”, destaca o texto.
Diante desse cenário, a gestora independente realizou uma análise da evolução recente da inflação de serviços, considerando diferentes desagregações, com o intuito de verificar se esse movimento foi motivado por fatores pontuais ou se foi resultado de itens mais recorrentes, sensíveis à ociosidade da economia e à inércia inflacionária.
“Nossa avaliação indica que grande parte dos desvios das projeções, ou o ‘susto’ deste início de ano, teve origem em subitens que não são influenciados pelo ciclo econômico, sendo os serviços bancários um exemplo notável”, destaca o texto da Kínitro. No entanto, ressalta que isso não diminui a importância do dinamismo do mercado de trabalho na perspectiva de uma possível desaceleração gradual dos preços dos serviços.
O estudo aponta que, entre novembro de 2023 e fevereiro de 2024, os serviços subjacentes registraram um aumento de 2,00 pontos percentuais. Os principais destaques nesse período foram a variação da alimentação fora de casa (0,44%), os serviços bancários (0,39%) e o aluguel (0,26%).
Exceto no caso dos serviços bancários, os demais subitens são considerados ‘pesos-pesados’, representando juntos 45% do total dos serviços subjacentes. Para contornar essa concentração, foi utilizada a média móvel de três meses anualizada e dessazonalizada dos serviços subjacentes em fevereiro, comparando com o nível em novembro do ano passado. Apesar da predominância dos serviços bancários, os ‘pesos-pesados’ reduziram sua participação, cedendo lugar aos seguros de veículos e ao conserto de automóveis.
Ao analisar a inflação de serviços considerando a ociosidade e a inércia, a gestora observou um descolamento tanto nos serviços bancários quanto nos serviços laboratoriais. Enquanto os serviços laboratoriais subiram de 4,3% para 6,4% na média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada no período de novembro a fevereiro, os serviços bancários saltaram de 7,3% para 14,7%.
No grupo dos “inerciais”, não foram identificados movimentos expressivos, exceto em cinema, teatro e concertos, impactados por uma promoção de descontos temporários nos ingressos.
Diante desse cenário, a análise seguindo a classificação do BC reforça a visão de que a alta recente dos serviços está mais associada a fatores não recorrentes, não sensíveis à ociosidade da economia e à inércia inflacionária, conclui a Kínitro.
Em relação às políticas monetária e fiscal, o estudo sugere que o BC deve continuar revisando para cima o seu hiato do produto, que ainda está negativo. Com um mercado de trabalho mais apertado e reajustes salariais acima da meta de inflação, as chances de uma demora na convergência da inflação para o centro da meta aumentaram.
A análise não considerou possíveis recomposições favoráveis nos preços relativos ou uma dinâmica mais benigna das commodities, elementos que poderiam acelerar o processo de convergência. Portanto, a leitura atual do cenário aponta para a manutenção da taxa Selic em um patamar restritivo ao final desse ciclo.
O estudo destaca que a incógnita reside na possibilidade de uma moderação da atividade econômica no futuro e se essa será aceita pelo governo. A busca por um crescimento acelerado poderia acarretar consequências negativas para o cenário econômico.
O cenário base da Kínitro prevê a manutenção do arcabouço fiscal, apesar de possíveis moderações nas metas ao longo do ano. Uma mudança na direção da dinâmica proposta pelo governo para o resultado primário seria preocupante.
Em resumo, o estudo da Kínitro Capital aponta para um corte de 50 pontos-base na taxa Selic na próxima reunião do Banco Central, seguido por uma desaceleração no ritmo de cortes a partir de junho. A expectativa é que a taxa Selic encerre o ano em torno de 9,0%, em um patamar ainda restritivo.