Em meio à bancada recorde do partido do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso, sem-terra e sem-teto também conseguiram emplacar nomes para fazer oposição no legislativo. Foram eleitos neste domingo (2) oito deputados federais e estaduais diretamente ligados aos dois movimentos.
Essa foi a primeira vez que o MST lançou candidaturas coordenadas pela direção nacional do movimento.
Entre os escolhidos, está o mais votado em São Paulo para a Câmara dos Deputados. Candidato pelo PSOL, Guilherme Boulos é líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e teve 1 milhão de votos.
Também conseguiu uma cadeira no legislativo estadual paulista Ediane Maria, empregada doméstica e coordenadora do MTST, com 175 mil votos.
O MTST, movimento pelo direito à moradia, alcançou projeção na política partidária nas eleições passadas, quando Boulos se candidatou à presidência do Brasil.
Neste ano, lançou cinco candidaturas: Cláudia Ávila, candidata a deputada federal pelo Rio Grande do Sul, não conseguiu se eleger. Também não foram escolhidos os candidatos a deputados estaduais Leo Suricate, no Ceará, e Jô Cavalcanti, em Pernambuco.
Já entre os 15 candidatos lançados oficialmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), seis conseguiram a eleição.
Com a bandeira da reforma agrária e combate à fome, os candidatos Valmir Assunção (PT-BA) e Marcon (PT-RS) foram reeleitos para a Câmara dos Deputados, com 90 mil e 129 mil votos, respectivamente.
Também ocuparam os legislativos estaduais Marina (PT-RJ), Rosa Amorim (PT-PE) e Adão Pretto (PT-RS) e Missias (PT-CE).
Para o MST, o número de eleitos ficou “dentro do esperado” e o movimento “fez história”.
“Outras candidaturas nossas que não conseguiram chegar ajudaram companheiros a se elegerem nos estados”, diz Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST.
Ele cita o caso de Ruth Venceremos (PT), primeira drag queen sem-terra no Distrito Federal que perdeu a vaga por pouco, depois de receber 31 mil votos, mas ajudou a puxar votos para outros candidatos.
O PT, junto com outros partidos que formaram a federação Brasil da Esperança, teve a segunda maior bancada da Câmara, atrás do PL. Foram ocupadas 79 cadeiras de deputados federais.
Segundo Conceição, os eleitos pelo movimento sem-terra devem levar a pauta da alimentação saudável e reforma agrária para o Congresso. E, com uma Câmara conservadora — o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, conquistou 99 cadeiras — o MST também prevê disputas ideológicas.
“Vamos fazer barulho no Congresso, com a bancada do cocar (indígenas) e dos sem-teto para reconstruir o Brasil e o orçamento público”, diz Conceição. “Vai ser uma briga boa.”