Brasileiro evita quedas do adversário, tem lampejos dos áureos tempos através de golpes plásticos e conquista primeira vitória oficial desde o UFC Rio 3, em 2012
Uma sucessão de derrotas e questionamentos sobre o seu futuro foram situações que Anderson Silva precisou aprender a lidar nos últimos dois anos. Acostumado a enfileirar adversários, Spider não vencia uma luta desde 2012. Sem o cinturão do Ultimate, passou a semana dizendo que atua por prazer e amor ao esporte que pratica desde a adolescência. E, aos 41 anos de idade, fez sua habilidade e sua experiência superarem a juventude e o porte físico de Derek Brunson, dando ainda lampejos dos seus grandes momentos, por meio de chutes rodados e domínio no octógono. A vitória por decisão unânime (29-28, 29-28 e 30-27) na co-luta principal do UFC 208, no Brooklyn, em Nova York, levou o brasileiro a quebrar um jejum de quatro anos e quatro meses e o recolocou no caminho trilhado desde o início de sua trajetória na modalidade.
Anderson pareceu se divertir no octógono e, antes mesmo de ouvir seu nome ser anunciado como vencedor, sentou-se ao lado do adversário e o abraçou. Quando Bruce Buffer anunciou o resultado final, o brasileiro se emocionou, talvez, em um misto de felicidade e alívio. Ele abraçou os treinadores e se esforçou para falar ao ver o público de pé nas arquibancadas do Barclays Center.
– Primeiro de tudo, obrigado por virem aqui hoje. Muito obrigado ao UFC e aos meus amigos, minha família e meus filhos. Primeiro de tudo, Deus. Eu trabalhei muito durante muito tempo para lutar aqui. Coloco sempre meu coração. Às vezes tenho uma dor nas pernas, nas costas, às vezes procuro minha família e digo que vou treinar por três ou quatro meses, e agora quando venho para uma luta, venho para proporcionar isso a todos e dar o meu melhor. Desculpem, pois sei que estou muito velho para lutar, todo mundo aqui é mais novo, mais forte, mas eu fiz isso aqui com o meu coração. Quando eu venho aqui dentro do octógono, coloco toda a minha vida aqui dentro. Respeito todo mundo aqui, respeito os fãs e venho aqui para lutar feliz, pois amo o meu trabalho, amo o UFC, meus fãs no mundo e, por muito tempo sonhei em lutar em Nova York, eu nem acredito que isso aconteceu. Obrigado! – declarou o brasileiro, cuja vitória contra Nick Diaz, no UFC 183, em 2015, foi transformada em “No Contest” (sem resultado), após ambos serem flagrados no exame antidoping..
O ex-campeão do peso-médio adentrou na arena de uma forma diferente. A música que anunciava a sua chegada ao octógono já não era a icônica “Ain’t no Sunshine”, do rapper DMX, que o acompanhou pelas 17 últimas lutas que fez na carreira. Por isso, talvez, a emoção tenha sido mais intensa, e as bandeiras do Brasil eram agitadas pela torcida canarinho enquanto Spider caminhava ao som da canção “Doom” (Sina, na tradução literal), composta por seu filho Kalyl, que o acompanhou até a entrada da arena ao lado do irmão Gabriel.
A luta
Quando o árbitro central autorizou o início do confronto, a tensão tomou conta. Anderson Silva, especialista em surpreender com golpes de rara habilidade, estudava Derek Brunson que, diferentemente de seu último compromisso, não avançou com a voracidade costumeira. Demorou mais de um minuto até um dos atletas arriscar o primeiro golpe – o americano errou o alvo em sua investida inicial. No centro do octógono, Anderson esperava para atuar no contra-ataque. Ele arriscou o primeiro jab, começou a trabalhar a movimentação, e os golpes de Brunson passaram a entrar – sem perigo. Os dois chegaram a clinchar e a trocarem golpes duros, mas com a segurança e a experiência típicas de quem esteve diante de oponentes mais tarimbados, Anderson se testava ao absorver os golpes e, quando julgava ser a hora, revidava, dando lampejos de seus momentos áureos dentro do octógono, por meio de chutes e socos plásticos.
No segundo round, a torcida empurrava Spider: “Vamos lá, Silva!”. O brasileiro passou a se soltar mais, baixando a guarda e provocando o adversário com seu jogo mental. Mesmo com a vantagem física, Brunson não conseguia impor a pressão necessária para superar o brasileiro. Em vários momentos, ele buscou as pernas de Spider, que se defendeu as tentativas de queda com eficiência. Anderson absorveu bem um jab na têmpora e passou a caçar o adversário, acertando um chute rodado seguido de um chute de esquerda. Em determinado momento, o ex-campeão esboçou uma ginga típica da capoeira e acertou a perna esquerda na cabeça do adversário, na sequência. A torcida explodiu, mas o árbitro anunciou o fim do round logo depois.
Quando o terceiro assalto começou, Derek Brunson tentou reagir. Buscou o single leg, conseguiu a queda, mas Anderson Silva se levantou imediatamente. O americano executou nova tentativa de quedar o ex-campeão dos médios – em vão. Spider fez o sprawl e pegou o pescoço do adversário, ameaçando uma guilhotina. A luta voltou a transcorrer em pé, com Anderson desferindo um chute na linha de cintura e perseguindo o adversário no cage. O brasileiro ainda absorveu uma boa joelhada e trocou golpes no clinch. Brunson tentou até o final, mas parecia respeitar demais o oponente que, após um chute rodado baixo, quase acertou as partes íntimas do adversário. Anderson, então, estendeu a mão em sinal de desculpas. Ciente da proximidade do fim do round, Brunson pressionou na grade, levou a luta para o chão e caiu por cima. Era tarde, porém, para descontar a vantagem que o brasileiro havia conquistado nas etapas anteriores. Anderson terminou a luta por baixo, no entanto, sem risco de deixar o resultado favorável escapar.