Um nota de repúdio contra a contratação do goleiro Bruno pelo Fluminense de Feira foi divulgada na última segunda-feira (6). O manifesto, assinado pela seção de Feira de Santana do Movimento Negro Unificado da Bahia, pelo Movimento de Mulheres em Defesa da Cidadania e pela Rede de Mulheres Negras da Bahia, pede que a agremiação reconsidere e desista de assinar contrato com o jogador.
"(…) o simples fato de cogitar a contratação deste assassino já se constitui uma mancha na longa história do Clube. E mais do que isso, representa um posicionando no sentido contrário ao crescente sentimento de repulsa ao feminícidio que tem interrompido a vida de tantas mulheres não só no município, mas em todo o Brasil. Esperamos que o Touro do Sertão não manche sua bonita história em defesa do esporte afrontando as mulheres de Feira de Santana ao nos impor tão ofensiva contratação", diz um trecho da nota.
A negociação com o atleta para a disputa do Campeonato Baiano deste ano foi confirmada pelo presidente do Fluminense de Feira, o deputado estadual Pastor Tom (PSL). Caso seja contratado, o Touro do Sertão será o terceiro clube que Bruno vestirá a camisa após ser preso. Em 2017, ele jogou cinco partidas pelo Boa Esporte. No ano passado, ele defendeu o Poços de Caldas em um jogo.
Em 2013, Bruno foi condenado a 22 anos e 3 meses pelo assassinato e ocultação de cadáver da ex-namorada Eliza Samúdio e também pelo sequestro e cárcere privado de Bruninho, seu filho com a modelo. Eliza desapareceu em 2010 e seu corpo nunca foi encontrado.
O goleiro se tornou jogador de futebol profissional em 2004, com a camisa do Atlético-MG. Dois anos depois, ele fez bastante sucesso no Flamengo, onde ficou até o dia em que foi preso, em 2010.
O Fluminense de Feira estreia no Campeonato Baiano contra o Atlético de Alagoinhas, no dia 15 de janeiro.
Confira a seguir a nota de repúdio na íntegra:
NOTA DE REPÙDIO CONTRA A CONTRATAÇÃO DO GOLEIRO BRUNO PELO FLUMINENSE DE FEIRA
06 de janeiro de 2020
Por meio deste documento registramos nosso repúdio a contratação do goleiro Bruno Fernandes, de 35 anos, que foi condenado pelo assassinato da modelo Elizia Samúdio em 2010. Vale lembrar que ele só não foi julgado também por ocultação de cadáver porque este crime expirou antes de ir a juízo. Ou seja, embora a morte tenha sido provada e ele condenado, até agora, os familiares da Elizia ainda não tiveram o direito de saber o que foi feito seu corpo.
Em regime semiaberto o mencionado goleiro negocia sua contratação com o Fluminense de Feira. Ao ser indagado sobre a repercussão negativa da contratação o presidente do Clube o Deputado Estadual Pastor Tom teve a pachorra de dizer que: se dentro de campo ele atender, se vestir a camisa do Fluminense com respeito e dedicação não via nenhum problema em tê-lo entre os contratados da agremiação. Tal declaração do atual dirigente é, no mínimo, uma falta de respeito não somente às mulheres de Feira de Santana, mas também aos homens que se respeitam e se juntam a nós contra o feminícidio.
Presidente Tom, nos respeite o senhor!!!!!!! Em tempos em que o aumento do crime de feminícidio em todo o Brasil aumenta escandalosamente como demonstra o primeiro relatório da Rede de Observatório com dados levantados entre junho e outubro de 2019, considerando cinco estados do nordeste dentre eles a Bahia. Apenas nesses meses, 518 crimes contra a mulher foram registrados nos estados pesquisados. Destes 39% se enquadram na categoria de feminicídio, 42% correspondem à tentativa de feminicídio ou agressões físicas e 15% agressões sexuais. Ainda está viva em nossa memória o assassinato da jovem Elitânia de Souza da Hora pelo ex-namorado quando saia da faculdade, na cidade de Cachoeira em 22 de novembro de 2019. Da mesma forma, ainda estamos de luto pelo assassinato de Rebeca Almeida que aos 19 anos, também foi assassinada pelo ex-namorado, diante de sua própria mãe na Rua Marechal Deodoro, aqui, em Feira de Santana enquanto as duas faziam compras às vésperas do natal. Só para citar alguns casos dentre tantos outros.
Fundado, em 1 de janeiro de 1941, não é preciso ser torcedor do Fluminense de Feira para reconhecer a importância desta agremiação esportiva para Feira de Santana. No entanto, o simples fato de cogitar a contratação deste assassino já se constitui uma mancha na longa história do Clube. E mais do que isso, representa um posicionando no sentido contrário ao crescente sentimento de repulsa ao feminícidio que tem interrompido a vida de tantas mulheres não só no município, mas em todo o Brasil.
Esperamos que o Touro do Sertão não manche sua bonita história em defesa do esporte afrontando as mulheres de Feira de Santana ao nos impor tão ofensiva contratação.
Mulheres do MNU-BA/Seção de Feira de Santana
MOMDEC – Movimento de Mulheres em Defesa da Cidadania
Rede de Mulheres Negras da Bahia
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